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Síntese do dia 1

No mínimo, o cúmulo da irresponsabilidade

Ao ler os jornais dos últimos dias, lembrei-me de uma definição que diz que demagogia é uma forma corrupta de democracia, que conduz as pessoas a situações falsas, não representando a verdadeira consciência cívica do governo, tendo como objetivo principal iludir o povo com promessas e mais promessas sem possibilidade de concretização. É uma forma que, além de prejudicar o povo, corrói as bases da democracia.

Fiquei pensando nisto ao ver no noticiário o governo do estado propondo um aumento de 14,9% ao salário mínimo regional em plena crise financeira, quando administradores tanto do setor público quanto da iniciativa privada deveriam estar à procura de alternativas concretas, distantes da retórica e da demagogia, para manter ou criar empregos. É um aumento salarial para algumas categorias, mas que se reflete para todas as outras, que faz com que o salário mínimo no Paraná chegue a ser 35,2% maior que o mínimo nacional. No mínimo, é o cúmulo da irresponsabilidade.

Acho que nos próximos dias, as entidades, não só as patronais, mas também as de empregados, devem se manifestar, sem a paixão da demagogia, em defesa do emprego e contra o paladino do reino da fantasia, que usa o poder e o dinheiro público para postular a continuidade de sua carreira política. O empresariado também não pode ficar só resmungando em reuniões de clubes, associações ou em suas próprias empresas. Um aumento como este, de quase 15%, comprometerá o custo das empresas com toda certeza porque está, no mínimo, acima da evolução dos preços das mercadorias. A economia cresce na mesma proporção? Qual o varejista de Curitiba que pode dizer que está tranquilo com esta "injeção" de recursos no mercado?

Ao anunciar a proposta do governo e defendê-la ferreamente, como exige o governador, o secretário de Planejamento, Enio Verri, escorrega em uma contradição que define toda a demagogia do que estamos vendo. Ele disse que antes de negociar com o funcionalismo público, precisa ver como ficará a arrecadação do estado para saber se os cofres públicos terão capacidade para arcar com o aumento pretendido pelos funcionários. Correto. É uma lei básica da economia: ver quanto se tem em caixa para saber se é possível se arcar com os custos. E a iniciativa privada? Tem de engolir os índices determinados pelo governo à Assembleia Legislativa que, provavelmente, mais uma vez, abaixará a cabeça aos mandos e desmandos do Palácio Iguaçu? O empresário terá de arcar com o determinado pelos demagogos de plantão, sob risco de comprometer sua empresa e inclusive o emprego de seu funcionário?

Em meio a uma crise dramática, quando se discute a necessidade urgente da flexibilização trabalhista, quando empresas do mundo todo entram em acordo com seus empregados, adotando alternativas para manter empregos, os índices de aumento salarial são irresponsavelmente estabelecidos no Paraná. No mínimo, o governo criou, como em inúmeras outras áreas, mais um motivo de atrito. O empregador pode dizer que não tem condições para arcar com este aumento e o empregado pode teimar em recebê-lo. Os dois podem perder. E quem ganhará com isto são apenas os demagogos de plantão.

Eu proporia aos senhores do Palácio Iguaçu uma análise, inclusive política, muito menos demagoga e mais condizente com os dias que vivemos para sugerir índices de aumento salarial. Ou, se eles entendem que esses índices são justos, que determinassem, desde já, o aumento com os mesmos porcentuais para o funcionalismo. Em segundo lugar, proponho ao governador Requião que se ocupe, bravamente, das pesadas denúncias da corrupção que se multiplicam dentro de seu partido (assim como em outros), feitas pelo senador Jarbas Vasconcelos. A corrupção no PMDB assume índices tão assustadores quanto os propostos para o aumento do mínimo salarial no Paraná. Só que os primeiros são reais e os nossos, por enquanto, são demagogia pura, em processo de transformação para virar realidade.

Cláudio Slaviero é empresário e ex-presidente da Associação Comercial do Paraná.

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