Já iniciamos nosso tempo quaresmal em preparação para a Santa Páscoa. Tempo de intensa oração e aprofundamento da nossa fé. O evangelista Marcos (Mc 1, 12-15) nos apresenta alguns dados da situação em que Jesus se encontra e esses elementos podem nos ajudar a compreender como nós também devemos buscar superar os momentos difíceis da nossa vida sem cair em tentação.

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É interessante notar que foi o Espírito que impulsionou Jesus a ir para o deserto e ali Ele ficou 40 dias. O mesmo Espírito que desceu em forma de pomba no Batismo e o acompanhou na sua trajetória rumo ao Calvário. Esse Espírito de Deus é quem conduziu Jesus para o deserto.

O deserto é o lugar onde a solidão fala mais alto, onde a fraqueza física exige o dobro de concentração e onde o medo nos domina. Por isso, fisicamente, passar pelo deserto é sempre um desafio de sobrevivência.

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Na Sagrada Escritura, essa mesma experiência nos é dada para a vida espiritual. Quando o Espírito de Deus nos impulsiona para fazer o bem, para sermos justos e corretos em tudo o que fazemos, então percebemos que nossas forças são redobradas pela graça de Deus.

Mas, na medida em que o tempo passa, sejam 40 dias, 40 anos ou uma vida inteira, nossos ideais vão se enfraquecendo, se afastando da força da graça de Deus, confiando somente na nossa força pessoal ou no que o mundo tem a nos oferecer.

Então, quando nos sentimos mais fracos é que vem a tentação. Satanás aproveita exatamente o momento de maior fragilidade espiritual para nos convencer de que o bem que queríamos fazer não vale a pena! É ilusão acreditar que é possível um mundo melhor! O demônio quer a morte de toda esperança!

A grande tentação no deserto da vida é desacreditar no bem que o Espírito de Deus nos impulsionou a fazer e, assim, abandonarmos nossa ação, nossa missão, nossa caridade, nossos bons propósitos, nossa fé... Esse é o papel do tentador: convencer-nos de que é preciso desistir.

Por isso, de maneira alguma devemos ficar só com a imagem de Jesus tentado no deserto, mas, ao contrário, devemos contemplar a trajetória de Jesus. Ele passa pelo deserto, vence as tentações, prega o Evangelho e a conversão, cura os doentes, converte os pecadores, sofre pelas mãos de seus algozes, sobe ao Calvário, morre por amor e ressuscita vitorioso para nos salvar.

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Eis a grande lição: se perseverarmos no bem e no amor que o Espírito de Deus nos impulsiona a fazer, então venceremos as tentações nos momentos de deserto da nossa vida e ressuscitaremos com Cristo, na Páscoa.

Temos essa consolação que vem do Cristo. Ele nos garante que, na hora da fraqueza ou quando estivermos abatidos, o combate interior contra o pecado não será em vão.

Das suas palavras e suas obras de misericórdia somos impulsionados a não ter medo de enfrentar nossos desertos e a construir o Reino de Deus a partir da força vital que vem do seu infinito amor.

Que neste tempo quaresmal sejamos perseverantes nos propósitos que nos levam a construir o Reino de Deus. A cada dia somos chamados à conversão, testemunhando que “o Senhor é piedade e retidão e reconduz ao bom caminho os pecadores” (Sl 24).

Dom Rafael Biernaski é administrador arquidiocesano da Arquidiocese de Curitiba.