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 | Valterci Santos/Arquivo Gazeta do Povo
| Foto: Valterci Santos/Arquivo Gazeta do Povo

A sanção da reforma do ensino médio trouxe para a discussão um novo modelo na etapa final da educação, momento em que o aluno poderá optar por caminhos que o aproximem da futura escolha profissional, os chamados percursos formativos. Além das quatro áreas do conhecimento já trabalhadas e avaliadas pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), um novo (talvez não tão novo assim) foi incorporado: a educação profissional. Apesar do acréscimo de horas-aula, o modelo manteve o limite de três anos para a conclusão dos estudos, forçando as instituições a adotarem o contraturno.

Apesar da polêmica sobre a implementação do modelo e investimentos necessários para manter o formato, as mudanças seguem uma tendência mundial e possibilitam que o aluno faça a iniciação profissional dentro do ensino médio. Isso já era possível nos formatos integrado e concomitante, mas o número de interessados nessa modalidade mostrou visível redução no número de matriculados nos últimos anos.

No novo formato, todos os percursos formativos do ensino médio serão finalizados em três anos e todos terão uma base comum (ainda em discussão) de um ano e meio. Isso vem ao encontro do desejo das famílias de não retardar a entrada de seus filhos no ensino superior, e também dos alunos oriundos de uma geração que não quer mais tempo na escola.

Hoje, os adolescentes fazem ensino médio apenas pela obrigatoriedade e exigência do mercado

Apesar das críticas, esse novo formato permite o estabelecimento de parcerias institucionais, pois nem todas as escolas terão a obrigação e estrutura para ofertar todos os percursos formativos. Essas parcerias seriam similares ao Pronatec, por exemplo, em que o Ministério da Educação pode comprar vagas em instituições que já tenham experiência na área técnica, tanto federais quanto particulares, e já disponham de laboratórios e estrutura para preparar de maneira efetiva uma profissão aos estudantes.

Além de incentivar e permitir que os alunos tenham aula em instituições especializadas, essa opção ainda permite que os estudantes tenham qualidade no ensino e ainda ocupem tempo que muitas vezes é ocioso nessas instituições. Uma clara relação em que todos podem sair ganhando. O aumento progressivo da carga horária da Base Nacional Curricular Comum (BNCC), e que ainda está em discussão (de 800 para mil horas/anuais e para 1,4 mil h/a depois de cinco anos), permite maior densidade e profundidade nos conteúdos trabalhados em sala de aula.

A lei trouxe questionamentos e levantou um debate necessário que, mesmo sendo polêmico e podendo sofrer mudanças, tendo em vista os cortes no orçamento previstos com a PEC do teto de gastos, era mais que necessário. Hoje, os adolescentes fazem ensino médio apenas pela obrigatoriedade e exigência do mercado, que não contrata candidatos sem esse nível de escolarização. Vemos, nas salas de aula, estudantes desmotivados e sem interesse no conteúdo, sendo que, caso pleiteiem uma vaga no vestibular, terão de estudar inúmeras “decorebas” que dificilmente serão utilizadas na carreira escolhida.

Falando em vestibular, essa reestruturação no ensino médio acarretará em outras mudanças tão necessárias quanto, como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e processos seletivos por todo o país, por exemplo.

As escolas que já se adiantarem e discutirem o atual modelo estarão na frente daquelas que somente continuam aplicando o modelo de maneira fordista. Aquelas que já vislumbram novos horizontes sobre o atual modelo engessado não só estarão aptas como serão, neste momento, divisor de águas.

Élcio Miguel Prus é coordenador-geral do Ensino Médio Integrado do TecPUC.
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