A vertente privada, que ressurgiu no Paraná nos anos 1990, foi decisiva para a transformação do estado na 4.ª indústria do país. Isso pode ser constatado por meio da subida da participação do Paraná no valor da transformação industrial (VTI um proxy de produto ou valor adicionado) brasileiro de 5,2% em 1996 para 7,0% em 2007, enquanto a do Rio Grande do Sul caiu de 7,7% para 6,8% em igual intervalo, invertendo a posição das duas instâncias subnacionais no ranking de geração de renda fabril brasileira, conforme demonstra a Pesquisa Industrial Anual (PIA) do IBGE.
Rigorosamente, as razões para esse fenômeno repousam, de um lado, na maturação das inversões plantadas no Paraná entre 1995 e 1998, que foram antecedidas pela execução de pronunciadas mudanças nos modelos de gestão e nos métodos de produção do parque fabril operante no território estadual, acompanhando, de forma ampliada, o ajuste defensivo efetuado pelo setor privado industrial em escala nacional, para fazer face ao maior grau de exposição à concorrência externa, imposto pela recessão e abertura comercial, promovidas pela administração Collor.
Uma rápida combinação entre os dados de evolução da produção e emprego industrial, apurados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pela Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), respectivamente, permite inferir elevação da produtividade industrial estadual em cerca de 10% ao ano acima da média brasileira, no período 1991-1994. Tratou-se de uma espécie de revolução silenciosa, ocorrida no interior das unidades industriais, sem a colaboração e com o atrapalho do governo.
De outro lado, é preciso reconhecer o peso exercido pela flagrante perda de dinamismo da economia gaúcha, por conta da deterioração da capacidade de gasto e de investimento do setor público, atrelada à falência das finanças estaduais, e das manifestações de resistência de investidores potenciais em hospedar novos projetos no RS, sobretudo depois do rompimento dos acordos firmados entre o governo do estado e as montadoras Ford e General Motors (GM), em 1999.
Contudo, as "Contas Regionais do Brasil: 2003-2007", divulgadas pelo IBGE em 18/11/2009, apontam que a contribuição da indústria de transformação do Paraná no Produto Interno Bruto (PIB) da indústria brasileira recuou de 7% no biênio 2003-2004 para 6,6% em 2005-2007. Em paralelo, a importância da manufatura gaúcha na nacional, também cadente, despencou de 9,2% em 2004 para 7,7% em 2007, o que ainda a manteria no 4º posto na tabela nacional.
Frise-se que o encolhimento da presença relativa da indústria paranaense no contexto nacional aconteceu em um período de vigorosa recuperação das atividades manufatureiras do país, em fase com o maior ciclo de crescimento da economia internacional depois da II Guerra Mundial e com o fortalecimento do mercado interno, movido a crédito (com ênfase para as linhas em consignação) e renda.
A mola propulsora da renda pode ser reproduzida no aumento do poder de compra das famílias, propiciado pela queda da inflação, pela elevação dos níveis de emprego formal e de salários reais (via negociações coletivas e valorização do salário mínimo) e pela proliferação das iniciativas oficiais de transferência de renda, ancoradas no programa Bolsa Família.
Especificamente, o declínio do Paraná pode ser imputado à mistura entre componentes técnicos, econômicos e políticos. Do ângulo técnico emergem as diferenças conceituais entre as duas variáveis mensuradas pela mesma instituição de pesquisa, VTI e PIB, que, aparentemente, não estariam expressando tendência semelhante. O VTI resulta do desconto, do Valor Bruto da Produção (VBP), das despesas com operações industriais, constituídas por energia elétrica adquirida, combustíveis e lubrificantes consumidos, e matérias-primas, materiais e componentes. O PIB é obtido pela conta traduzida pelo VBP menos o consumo intermediário, que acrescenta, aos gastos operacionais, outros itens empregados no processo produtivo, em aderência com o princípio tecnológico do produto econômico. Encerro a assunto no artigo de 1º de fevereiro.
Gilmar Mendes Lourenço, economista, é coordenador do Curso de Ciências Econômicas da FAE Centro Universitário.