No dia 18 de maio, o estado perdeu João Lopes, autor da música Bicho do Paraná, denominada um rock rural dos anos 80 que anunciava ícones e personalidades do nosso estado na televisão, para que todos os conhecessem. E a história deste estado valoroso, para esta nação que patina, é de vitórias e conquistas em diversos segmentos. Mas há um, em especial, que é “bicho do Paraná” e referência para todo o Brasil: o agronegócio.
Em tempos de crises econômicas como as dos últimos anos, acredito que habitantes de outros estados, sem tamanha força nos campos e nos currais, devem cantar “seu motorista, toque o carro, me tire desse lugar, me leve logo, motorista, pro outro lado de lá!”, primeira estrofe da canção do saudoso compositor. Não é de hoje que o agronegócio traz comida à mesa de todos os paranaenses e boa parte do Brasil e do mundo.
Para eu não ficar apenas na canção e na história, trago dados, como o Valor Bruto de Produção (VBP), medido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. O VBP é um importante indicador no meio, pois mostra a evolução do desempenho das lavouras e da pecuária ao longo do ano e corresponde ao faturamento bruto dentro dos estabelecimentos. É calculado com base na produção da safra e da pecuária, e nos preços recebidos pelos produtores nas principais praças do país, dos 26 maiores produtos agropecuários do Brasil.
Em 2011, o Paraná gerou R$ 66,1 bilhões, o que correspondia, à época, descontada a inflação, a R$ 6.153 por habitante. Isso evoluiu com o tempo; o estado se modernizou e criou mais infraestrutura, principalmente nos últimos anos. Em 2020, a projeção é de que o VBP chegue a R$ 88,9 bilhões, ou R$ 7.716 por habitante, também descontada a inflação, ou aumento de 34% no VBP e de 25% no valor por habitante. Três outros tradicionais estados agropecuários, como São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, não tem um VBP total e nem per capita que chegue perto ao paranaense, com R$ 1.875, R$ 3.430 e R$ 4.950 per capita, respectivamente.
Sempre que se comenta um desempenho excepcional do agronegócio, aparecem críticos que indicam que o país precisa focar na Indústria, onde imaginariamente se entende que há maior valor agregado. Engana-se quem acha que o agro não agrega valor; basta ver a tecnologia de sementes, genética, maquinários e beneficiamentos, sem falar nas vertentes do Agro 4.0. E o agronegócio fez sua parte e cresceu mesmo com todas as adversidades, muitas vezes as mesmas da indústria.
Há três décadas que se verifica um crescimento impressionante ao mesmo tempo que a indústria agoniza com baixa produtividade e cada vez menos empregos disponíveis. Claro que o país precisa de mais indústria, sem dúvida; então, faça-se! As condições são as mesmas. O Brasil não deve excluir, precisa de todos. Volto, então, à canção de João Lopes: “A vida pra mim, na cidade grande, tá difícil pra danar, a gente que nasceu no mato, no mato tem que morar.”
Ao detalhar o VBP por pecuária e lavouras, vê-se um aumento de 52% no VBP da pecuária no mesmo período e de 25% nas lavouras, mesmo castigado por seguidas estiagens. Somente a soja aumentou em VBP 58%, consolidando o estado como o segundo maior produtor do país para esta commodity e o segundo em VBP total considerando todos os 26 principais produtos.
No momento em que o agronegócio se mostra como o único motor realmente ligado para girar a nossa economia, o paranaense deve se orgulhar. O futuro é mais que promissor, visto a diversidade de produtos que aqui são produzidos. E, para parabenizar a todos, volto ao saudoso João Lopes: “No mato a gente se ajeita, tudo o que se planta dá, quero voltar pra minha terra, pro norte do Paraná.” Afinal, “eu não sou gato de Ipanema, sou bicho do Paraná”.
Eduardo Müller Saboia, técnico e engenheiro industrial mecânico, pós-graduado em Gestão Industrial e Business Management e mestre em Administração Estratégica, é professor de Agricultura 4.0 na pós-graduação da UFPR e head de uma empresa de treinamento e consultoria em agronegócio.
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