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Escola.
Escola.| Foto: Unsplash

Outro dia, o colunista Alexandre Borges – por quem tenho grande apreço – publicou o seguinte tweet: “‘Jovens votando na esquerda mostram que haverá uma mudança na política’, diz especialista. Jovem vota na esquerda pq é... jovem! Para o bem de todos, ele envelhece. Desculpe estragar a narrativa”. Jovens, de fato, votam mais na esquerda devido à idade. Assim como é um fato que, para o bem de todos, eles envelhecem. Contudo, o tema merece um comentário.

Afinal de contas, há problema em um jovem votar na esquerda? Creio que a maioria das pessoas com um ponto de vista democrático concorda comigo que não. Porém, vejo, sim, que existe um problema quando há uma maciça concentração de votos na extrema-esquerda.

Toda sociedade precisa daqueles que perguntam “por que mudar?” e daqueles que perguntam “por que não mudar?”. Mas, em vez disso, o que eu tenho visto é uma concentração de atitude, nos indivíduos da minha geração, no sentido de que “tem de mudar”, sem haver o questionamento a respeito dos fatores, empíricos e reais, bem como de todas as consequências que justificariam e seriam geradas pela mudança proposta – que, geralmente, não é construtiva, mas destrutiva, sem proposição de algo para compor o abismo criado pela desconstrução.

Dessa forma, eu proponho uma reflexão: qual é o papel da escola nesse contexto? E, quando me refiro a “escola”, baseio-me naquela em que estudei e nos relatos a que já tive acesso. Muitos que tratam desse tema tendem a culpar os professores e a acusá-los de “doutrinação em sala de aula”. Isso é generalizar um problema – assim como também fazem os que acusam a sociedade de ser “machista”, “racista” e outras abobrinhas que saem da boca para fora e que só atrapalham quem quer tratar seriamente esses temas.

É claro que há uma hegemonia ideológica dentro do ambiente acadêmico. Quem foi aluno ou trabalha na área sabe disso por experiência própria. Mas também há várias pesquisas reiterando esse fato, mostrando as filiações da classe dos professores aos partidos – em que sempre lideram as filiações ao PSol, PT e PCdoB, por exemplo. Uma dessas pesquisas, feita em 2018 e publicada pela Gazeta do Povo, ilustra o mesmo: os partidos com o maior número de professores candidatos a cargos eleitorais eram: PSol (em liderança disparada), PT, Rede, PCdoB, PV e PSTU, nessa ordem. Dizer que isso não chega às salas de aula, mesmo que de forma orgânica ou natural, é tão leviano quanto dizer que há uma doutrinação em massa premeditada, como um plano para converter os jovens.

Fora isso, há, no ambiente escolar, uma romantização muito grande de movimentos e posturas revolucionárias, o que creio ser extremamente maléfico para os estudantes, enquanto cidadãos responsáveis. Afinal, quem pouco sabe não deve ser estimulado a sair por aí vociferando sobre o que pensa acerca do nosso sistema econômico e sobre sistemas de governo. O que deveria ser estimulado nos colégios é o comedimento e a reflexão, não o contrário – que normalmente ocorre. Ceticismo, prudência, pensamento crítico e adoção de bons exemplos são valores que deveriam ser estimulados nesses ambientes, em vez de indignação com o status quo, luta de classes e comportamento revolucionário.

Se algo nesse sentido precisa ser passado para nós, jovens, nos ambientes escolares, é que devemos nos apegar ao que herdamos de positivo das gerações passadas, e modificar aquilo que é prejudicial ou que pode ser melhorado, a fim de que as próximas gerações desfrutem de uma sociedade melhor. Para tal, acredito ser pertinente entendê-la como uma associação entre os vivos, os mortos e aqueles que estão por nascer, como sugeriu Edmund Burke.

Com isso, podemos nos enxergar como herdeiros de uma herança compartilhada, em que aquilo que vemos e vivenciamos atualmente – que nos foi deixado pelas gerações passadas – não deve ser destruído, pois, acima de tudo, não é apenas nosso, mas também dos que ainda estão por vir, além de também ser um menosprezo com aqueles que deixaram tudo isso para nós. Como resume Roger Scruton, há uma “genealogia de deveres que nos vincula àqueles que nos deram o que temos; e nossa preocupação com o futuro é uma extensão dessa linhagem”. Compreendendo a sociedade dessa forma, temos uma maior tendência a sermos responsáveis para com o que herdamos, lidando de forma prudente com as mudanças que urgem serem feitas.

Nesse contexto, também é importante a ênfase na ideia de “reforma” ao lidar com os problemas da nossa sociedade, não com a de “demolição” ou de “estagnação”. “Reforma”, pois, como apontou João Pereira Coutinho, “é uma reforma que procura reparar cautelosamente o ‘velho edifício’ – e não destruí-lo pela força da utopia”. Mas, para que esse processo ocorra, precisamos dos que perguntam “por que mudar?”, assim como dos que perguntam “por que não mudar?”; mas não dos que impõem que “tem de mudar”, de forma irresponsável e desprovida de escrúpulos.

Quem questiona sobre os motivos de não mudar ajuda na reflexão acerca do que há de prejudicial entre nós; e quem questiona os motivos da mudança ajuda na reflexão acerca do que pode ser prejudicial na mudança. Com esse diálogo, vamos preservando o bom e modificando, gradualmente, o ruim. Mas, para que tenhamos pessoas qualificadas para realizar esse processo quando adultas e independentes, há a necessidade de que elas tenham, em mente, esses preceitos – que são atrapalhados quando os jovens são estimulados à adesão da mentalidade revolucionária, em vez da prudência. O resultado surge com o apoio a movimentos, e com os votos em partidos e candidatos que incorporam essas características irresponsáveis – no Brasil atual, quase todos à extrema-esquerda (PSol, PCdoB etc.).

Gabriel Menezes Dantas é estudante de Medicina e articulista.

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