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O ano escolar e a Copa do Mundo

Desde o início do ano passado, as escolas têm discutido o calendário escolar em virtude da Copa do Mundo. Entretanto, passada essa fase, e com o ano letivo já a pleno vapor, é necessário pensar a Copa do Mundo como uma oportunidade de aprendizado para os nossos alunos. Como? As possibilidades são inúmeras. Mais que um tema transversal que pode abarcar várias disciplinas, a Copa aproxima o cotidiano ao estudo teórico tantas vezes distante do alunado.

A Brazuca, a bola oficial do torneio, por exemplo, poderá sair rolando do gramado diretamente para uma aula de Química. Qual o material por ela utilizado? Por que 437 gramas, nem mais nem menos? Ao que os nossos professores de Física podem colaborar ajudando os alunos a pensar e calcular trajetórias da Brazuca, e tantos outros aspectos físicos que uma atividade como o futebol proporciona.

E, se não existe futebol sem chute, qual professor de Biologia não ficaria honrado de poder explicar os músculos em ação da perna do Neymar, comentando aquele gol espetacular que, mesmo sem fazer um exercício de futurologia, acreditamos que virá para a alegria geral da nação verde-amarela?

A temida Matemática ficará muito mais simpática aos olhares escolares se fizer o cálculo da probabilidade de o Brasil ser campeão. O cálculo do custo da construção de um estádio e da renda que cada jogo proporcionará ajudará nossos jovens a entender o tempo que será necessário para se pagar uma construção desse porte. As oportunidades de ensinar Matemática a partir da Copa são quase tão infinitas como são os próprios números.

Enfim, não há componente curricular que não possa ganhar outro brilho com algo como o futebol, sempre nossa paixão nacional, mas que pode servir para despertar a consciência crítica e valores. Que Brasil é esse que gasta milhões em uma Copa do Mundo, mas tem deficiências gravíssimas na saúde, na educação e em tantas outras áreas? Uma aula interdisciplinar de História, Sociologia e Filosofia poderia discutir profundamente a questão.

E a Copa pode ser apenas o pontapé inicial. A escola não pode ser uma ilha isolada do mundo, ensinando conteúdos que não se renovam. Os componentes curriculares não podem ser caixas estanques que não conversam entre si e, principalmente, não conversam com a realidade que os cerca. O docente deve buscar oportunidades de sempre relacionar o conteúdo de sua disciplina ao mundo que está à volta do aluno. Com certeza, fazendo relações relevantes, o aluno não mais perguntará "Para que eu aprendo isso?"

Se somos contra ou a favor da Copa é uma discussão que deveria ter sido feita previamente. Não foi o que aconteceu. E não adianta, neste momento, querermos impedir um evento mundial de proporções gigantescas. O que resta, principalmente para nós, educadores, é explorar todos os aspectos possíveis em sala de aula. Se a Copa trará um grande prejuízo aos cofres públicos, pelo menos nossos alunos têm de sair ganhando; isso não depende de nenhum juiz e pode ser feito em muito mais do que 90 minutos.

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