Melhor com Lula, pior sem ele e muito pior contra o presidente: salta a evidência de que se o ano começou mal nos dois meses e quebrados, desperdiçados com o governo empacado, este ano decisivo de 2007 não pode ser perdido.
Um ano de encruzilhada, quando o destino do mundo começa a ser jogado nos sucessivos brados de alarme, com a chancela de cientistas, técnicos e ambientalistas que alertam a urgência do mutirão dos líderes das grandes potências na mobilização da consciência do planeta para deter ou reduzir a marcha batida para uma calamidade de proporções jamais imaginadas e que surpreende o Brasil no paradeiro das indecisões, à espera não se sabe do quê.
O oba-oba plenamente justificado do governo e do bloco dos vitoriosos com a consagradora reeleição do presidente Lula já deu tudo o que podia em badalação e promessas de um desempenho de embasbacar a platéia internacional. Mas a reconhecida dificuldade presidencial em decidir e bater o martelo, inversamente proporcional à facúndia dos seus improvisos, em doses duplas e triplas a cada dia, corroeu a euforia, azedou a calda das esperanças e abriu um vazio da perplexidade, prima da frustração.
A tática de empurrar as definições com a barriga para ganhar tempo corta como faca de dois gumes. Não serve para descascar legumes para qualquer salada. Ora, o bom senso e as lições da experiência e da malandragem da escola de outros tempos estavam a indicar o roteiro do óbvio: com o prestígio, a autoridade, o apoio popular dos 60 milhões de votos, Lula deveria remontar o monstrengo ministerial, a começar por separar a cota pessoal dos que serão mantidos e, na seqüência, acertar com os partidos da miscelânea do bolo de aliados a fatia de cada um. Conversa curta e grossa: o presidente define as pastas, aceita a indicação de nomes, mas é dele a intransferível responsabilidade de escolher e convidar os ministros, secretários e demais dirigentes do primeiro escalão.
Pois, o reeleito escolheu caminhar a passos lentos pela contramão. Adiou as conversas e reuniões para depois das férias, depois inventou o pretexto de aguardar a instalação da sessão legislativa e a eleição das Mesas Diretoras da Câmara e do Senado. Na emergência das aflições do PMDB com mais rachaduras do que vidro de carro estilhaçado em batida de frente, abriu a exceção para os cafunés no deputado Michel Temer, presidente do partido e líderes das bancadas, aos quais anunciou o prazo de 20 dias para o desenho do futuro governo. Estendeu a gentileza aos aliados do segundo time e distribuiu acenos e esperanças.
Passada a folga da folia, não há mais tempo a perder. Nos dois meses malbaratados nos afagos e manhas, muita coisa aconteceu para estragar a pintura dos próximos quatro anos paradisíacos, prolongamento e fecho do quatriênio histórico, sem paralelo com qualquer outro dos nossos 500 anos de existência.
Contas conferidas, análises refeitas, índices respeitáveis de entidades nacionais e internacionais despejaram baldes de água gelada na nossa euforia. Afinal, não avançamos tanto na cadência lulista ou no trote do PT. Na economia, a queda lenta, mas constante do juros, que não poupou a pele do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, o Judas da aleluia petista; índices mofinos de crescimento e uma saraivada de porcentuais humilhantes na queda da qualidade do ensino e da criação de empregos.
Na calamidade da insegurança das cidades, viraram praga nacional a violência, a criminalidade, o tráfico de drogas, a audácia das gangues, donas das favelas e das ruas que expõe a leniência do governo com a marginalidade, das invasões do MST e seus filhotes a fazendas e terras cultivadas e às ocupações de prédios públicos.
Não dá para agüentar mais um ano, mais este ano, assistindo à devastação da Amazônia, embalados pelas golfadas da grandiloqüência dos improvisos do presidente de todas as promessas apregoadas no leilão das ilusões.
Villas-Bôas Corrêa é analista político.