O ano de 2016 tem se mostrado desafiador para as empresas de frango no Brasil. De um lado, os custos de produção têm se elevado na esteira dos aumentos dos preços dos grãos, com destaque para o salto de 30% no valor do milho desde janeiro. E, de outro lado, o mercado consumidor tem se revelado frágil diante da forte retração econômica. Nem mesmo o crescimento do volume exportado de 12% nos dois primeiros meses do ano, ante o mesmo período de 2015, foi suficiente para aliviar as “dores” do setor nesse início de ano. Mas o que podemos esperar para o restante de 2016? O cenário deve melhorar, ainda que existam muitos pontos de atenção para os players do setor.

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No tocante aos custos de produção, a boa notícia é que as cotações do milho tendem a recuar dos níveis recordes atuais devido ao esperado avanço da oferta com a chegada da “super” safrinha a partir de junho – produção estimada de 58-59 milhões de toneladas – e da expectativa de uma boa produção da próxima safra norte-americana. No entanto, como estamos em período de desenvolvimento da safrinha brasileira e a área do Tio Sam inicia o plantio em abril, qualquer sinal de quebra de produtividade servirá como um gatilho para alta dos preços locais. Nesse ponto, a gestão de risco pode fazer a diferença.

As companhias que conseguirem se manter saudáveis provavelmente se depararão com boas possibilidades para ampliar suas operações

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Além do milho, outro fator que tem preocupado os empresários do setor é o aumento do custo da mão de obra. Apesar de a taxa de desemprego ter subido ao longo de 2015 e esperar-se uma fraqueza ainda maior do mercado de trabalho neste ano, a inércia pela qual os salários são reajustados sugere que esses custos não apresentam espaço para cair.

Talvez, um dos únicos componentes de custo que deve retroceder é a energia, considerando que se vislumbram preços mais baixos frente à redução de demanda e recuperação dos níveis dos reservatórios.

Voltando os olhos para a demanda, a fragilidade do mercado doméstico, destino de cerca de 70% da produção nacional, chama atenção, porque o enfraquecimento da economia reflete diretamente no consumo de carne em geral. E as perspectivas do Itaú para 2016, por exemplo, apontam para uma taxa de desemprego de 13% ao fim do ano e retração de 4% do PIB (excluindo do PIB o componente externo, estima-se que a contração da demanda doméstica será 5,4%). Embora em um primeiro momento essa redução de renda cause uma migração de consumo para a carne de frango (proteína mais barata), é preciso ter em mente que parte desse “efeito substituição” já pode ter tido seu gatilho puxado ao longo de 2015, indicando que a continuidade da deterioração econômica pode até influenciar na decisão de o consumidor reduzir o consumo de carne.

Algum alívio pode vir do lado das exportações, ao passo que as empresas brasileiras tendem a se beneficiar dos embargos impostos a importantes exportadores – como os EUA e a União Europeia – dados os casos de gripe aviária e aumento do número de plantas habilitadas para o México e a China.

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Os preços do petróleo, por sua vez, impactam a disposição dos países do Oriente Médio e Rússia, que respondem por 40% das exportações do Brasil, a pagar pelo produto brasileiro. Jogam contra também os altos estoques do produto no mercado japonês.

Ademais, as empresas de frango no Brasil se depararão com condições menos favoráveis no que diz respeito às necessidades de refinanciamento e de elevação do custo das dívidas já contratadas. Esse panorama reflete a alta de juros a reboque da taxa Selic média maior, diminuição de linhas subsidiadas e desvalorização do dólar, bem como o aumento de percepção de risco Brasil e setorial.

A solução não poderia ser diferente. As companhias terão de apertar os cintos para atravessar esse momento turbulento e sinuoso. Isso exigirá ainda mais disciplina da indústria e busca por ganhos de eficiência. O aspecto positivo é que as companhias que conseguirem se manter saudáveis provavelmente se depararão com boas possibilidades para ampliar suas operações por meio de fusões e aquisições, se tornando mais robustas para surfar no mar de oportunidades que existem para a carne de frango nacional no médio e longo prazo.

Guilherme Melo é analista sênior de Agronegócios no Itaú BBA.