Paul Johnson é um dos grandes historiadores e intelectuais contemporâneos. Autor do extraordinário Tempos Modernos: o mundo dos anos 20 aos 80, seus textos são sempre provocadores. Dono de uma cultura invejável e sinceridade afiada, Johnson não sucumbe aos clichês vazios. Em seu livro Os Heróis, Paul Johnson destaca a importância das lideranças morais.

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"Os heróis", diz Johnson, "inspiram, motivam. (...) Eles nos ajudam a distinguir o certo do errado e a compreender os méritos morais da nossa causa." Os comentários de Johnson trazem à minha memória um texto que exerceu forte influência no rumo da minha vida: Amar o mundo apaixonadamente, homilia proferida por são Josemaria Escrivá, fundador do Opus Dei e primeiro grão-chanceler da Universidade de Navarra, durante missa celebrada no câmpus daquela prestigiosa instituição. São Josemaria – cuja festa a Igreja celebra em 26 de junho – foi um mestre na busca da santidade no trabalho profissional e nas atividades cotidianas.

"A vocação cristã consiste em transformar em poesia heroica a prosa de cada dia." A vida, o trabalho, as relações sociais, tudo o que compõe o mosaico da nossa vida é matéria para ser santificada. São Josemaria, um santo alegre e otimista, olha a vida com uma lente extremamente positiva: "O mundo não é ruim, porque saiu das mãos de Deus". O autêntico cristão não vive de costas para o mundo, nem encara o seu tempo com inquietação ou nostalgias do passado. O verdadeiro cristão não vive focado no retrovisor. "Qualquer modo de evasão das honestas realidades diárias é para os homens e mulheres do mundo coisa oposta à vontade de Deus". A luta do nosso tempo, com suas luzes e suas sombras, é sempre o desafio mais fascinante.

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Articular verdade e liberdade é, talvez, um dos mais interessantes recados de são Josemaria. Insurge-se, vigorosamente, contra o clericalismo que se oculta na mentalidade de discurso único, na injusta dogmatização das coisas que são legitimamente opináveis. São Josemaria afirma que um cristão não deve "pensar ou dizer que desce do templo ao mundo para representar a Igreja", nem que "as suas soluções são as soluções católicas para aqueles problemas". Por defender esse pluralismo, sofreu incompreensões, inclusive de algumas pessoas da Cúria Romana, que entendiam, por exemplo, que na Itália os católicos tinham o dever de votar no Partido da Democracia Cristã.

São Josemaria não deixa de enfatizar o valor insubstituível da liberdade – particularmente a liberdade de expressão e de pensamento – contra todas as formas de intolerância e sectarismo. Para ele, o pluralismo nas questões humanas não é algo que deve ser tolerado, mas, sim, amado e procurado. A sua defesa da liberdade, no entanto, não fica num conceito descomprometido, mas mergulha na raiz existencial da liberdade: o amor – amor a Deus, amor aos homens, amor à verdade. Seus ensinamentos se contrapõem a uma tendência cultural do nosso tempo: o empenho em confrontar verdade e liberdade. Tenta-se impor, em nome da liberdade, o que poderíamos chamar de "dogma do relativismo". Essa relativização da verdade não se manifesta apenas no campo das ideias. De fato, tem inúmeras consequências no conteúdo ético da informação. A tese, por exemplo, de que é necessário ouvir os dois lados de uma mesma questão é irrepreensível; não há como discuti-la sem destruir os próprios fundamentos do jornalismo. Só que passou a ser usada para evitar a busca da verdade. A tendência a reduzir o jornalismo a um trabalho de simples transmissão de diversas versões oculta a falácia de que a captação da verdade dos fatos é uma quimera. E não é. O bom jornalismo é a busca apaixonada da verdade.

A figura de são Josemaria Escrivá, o seu amor à verdade e a sua paixão pela liberdade tiveram grande influência em minha vida pessoal e profissional. Amar o mundo apaixonadamente não é apenas um texto moderno e forte. Sua mensagem, devidamente refletida, serve de poderosa alavanca para o exercício da nossa atividade profissional.

Carlos Alberto Di Franco, diretor do Departamento de Comunicação do Instituto Internacional de Ciência Sociais (IICS, www.iics.edu.br) e doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, é diretor da Di Franco Consultoria em Estratégia de Mídia (www.consultoradifranco.com). E-mail difranco@iics.org.br