As velhas teses do PT nunca foram receita de desenvolvimento. Os sacerdotes do partido rezavam uma missa que não levava ao caminho da salvação; pelo contrário: era uma receita para sair do purgatório e entrar na rota da perdição do atraso político e econômico.
Estatização dos bancos, não-privatização de empresas estatais, controle da entrada de capitais estrangeiros, congelamento de preços, calote na dívida externa e interna, aumento do imposto sobre herança... propostas como essas eram corrente na voz dos comandantes e dos militantes petistas, em geral com apoio apostólico da igreja e da CUT. Os mais radicais iam além: professavam um saudosismo do comunismo que não deu certo nas repúblicas soviéticas e seus satélites.
Após chegar ao poder, Lula teve o bom-senso de entender que aquilo tudo não era receita de desenvolvimento e servia mais de exercício para o debate de intelectuais enraivecidos pelo fato de o mundo não ser como as suas idéias. Ele entendeu que não há margem para pirotecnias econômicas nem para ditadura política, e não se deixou encantar pela idéia de virar um tiranete latino-americano. Até agora, em matéria de bom senso político, Lula está à frente de certos "companheiros" e de caudilhos sul-americanos. O mundo é o que é, e não o que certos teóricos da esquerda marxista gostariam que ele fosse.
Em meados de janeiro, realizou-se, aqui no Brasil, a reunião de cúpula dos países do Mercosul e países interessados em participar do bloco. Nessa reunião, viu-se o quanto velhas e desastradas idéias podem renascer das cinzas. Evo Morales, presidente da Bolívia, e Hugo Chávez, da Venezuela, falaram como dois dinossauros ideológicos, tentando dar uma tintura de "socialismo" aos seus governos ditatoriais, estatizantes, retrógrados e antidemocráticos. Se fôssemos julgar o socialismo pelo que esses caudilhos fazem em nome dessa doutrina, teríamos apenas um arremedo de doutrina, uma caricatura deformada.
Ainda que não seja receita de desenvolvimento e de liberdade, o socialismo é uma estrutura de idéias muito melhor do que as políticas desses vizinhos, que não passam de ditadores primitivos caminhando para um regime de opressão. Até agora não estão matando; porém, se continuarem nessa toada, muito cedo começarão os extermínios dos que não lhes são simpáticos, numa repetição grotesca dos regimes totalitários sanguinários. Se isso ocorrer, o fim será sempre o mesmo de todo o ditador: os porões da história.
Um dos caminhos de Lula, e parece que é por aí que ele está seguindo, é deixar claro, para o público interno e para o mundo, que o Brasil é diferente; que nossas instituições são sólidas; que nosso rumo é da democracia política e da liberdade econômica; que nem ele nem seu partido têm pretensões ditatoriais; que seguiremos respeitando o direito de propriedade e os contratos juridicamente perfeitos; e que não somos uma republiqueta latino-americana submetida a um caudilho sedento de poder sem-limites.
Há um ponto básico em tudo isso: o Brasil precisa desesperadamente de investimentos... públicos, privados nacionais e estrangeiros. Se conseguirmos "descolar" o Brasil da imagem de países como Venezuela, Bolívia e Equador, conseguiremos sair da gafieira latino-americana para ingressar no clube dos países com futuro promissor, atraente para os capitais que circulam pelo mundo. O setor público brasileiro está esfacelado e não tem dinheiro para investir. O tal do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) apresenta uma lista de obras de infra-estrutura que já eram de responsabilidade do governo, não executadas no momento devido. Isto é: nada há de novo; são investimentos que o governo deixou de fazer e, portanto, não significam acréscimo algum, mas apenas a recuperação de um atraso monumental.
Nesse cenário, seria uma estupidez e um complô contra os desempregados, que já passam dos 10 milhões, hostilizar o investimento privado nacional e, sobretudo, o estrangeiro, como estão fazendo Venezuela, Bolívia e Equador. Tudo indica que Lula captou o momento histórico e não cogita sequer passar perto das idéias e das medidas dos "colegas" Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa.
José Pio Martins, professor de Economia e vice-reitor do Centro Universitário Positivo (UnicenP).
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