Deslumbrado pelo favoritismo e sem dar importância à advertência de prováveis oscilações nos índices das pesquisas não concluídas, o candidato-presidente Lula mergulhou fundo na campanha em tempo integral e virou as costas para a realidade na safra dos improvisos que inunda o noticiário político.
Nada detém a enxurrada de eloqüência no vôo nas alturas da imaginação solta no espaço. Na disparada dos exageros, salta a barreira do ridículo na louvação aos sucessos dos três anos e meio de governo que descobriram o Brasil-Maravilha e fundaram um novo país, em epopéia como jamais acontecera no mundo.
Lula está impossível. Os tropicões se sucedem com tal freqüência que é difícil acompanhar a marcha em ziguezague. Passa da conta no embalo da demagogia, com aconteceu, em Minas, na comemoração com jeito de comício do inegável sucesso da meta de distribuição de 11 milhões de Bolsa-Família. Na festa de arromba, o novo pai dos pobres foi às últimas e perdeu o domínio da língua. Acertou uma no Senado, acusado de retardar a aprovação do Fundo de Desenvolvimento do Ensino Básico (Fundep), encaminhado pelo governo em meado do ano passado e emendou na autolouvação do seu desvelado amor pelos pobres.
Chegou às alturas do sublime: "Os pobres, na verdade não dão trabalho". E para tocar no coração do voto: "Muitas vezes, os governantes não olham para eles porque eles não estão na rua fazendo passeatas e fazendo protesto contra os governos." E um pouco adiante, na mesma toada: "Os pobres não têm dinheiro para ir protestar em Brasília, para alugar ônibus."
Estamos, portanto, devidamente informados pelo benfeitor dos pobres que a invasão dos vândalos do MLST ao Congresso, com a depredação alucinada de computadores, vidros espatifados, cadeiras, obras de arte foi uma trama de ricos que se deslocaram de vários pontos viajando em ônibus fretados e com todo o suporte do requinte do planejamento profissional.
O mesmo enquadramento iguala o pioneiro MST do notório Stédile, especialista em invasão de fazendas, terras e até de centros oficiais de pesquisas agrícolas na faixa dos ricaços que se distraem assustando fazendeiros e sitiantes.
Ora, entende-se, mas não é caso de justificar-se, a profunda ignorância do candidato ao bis sobre o que se passa no governo. Ele realmente não sabe de nada, nada vê, de nada é informado. Não sabe nem quer saber. Com tal astúcia passou incólume pelo escândalo do mensalão e do caixa 2 que desmontou o núcleo duro dos companheiros de fé, como o José Dirceu, o ex-ministro da Fazenda e ditador financeiro José Palocci, o milagroso companheiro Delúbio Soares, tesoureiro do PT e seu comparsa Marco Valério e que conheciam todos os caminhos, inclusive no exterior, para abastecer com a generosidade de milionários a conta que pagou as despesas da campanha, a mais sofisticada e cara que "este país jamais viu".
Na mais recente lambança, o presidente-candidato foi surpreendido pelo pedido de demissão do ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, dos poucos conhecidos na sua mastodôntica equipe ministerial de ilustres diletantes anônimos, tão ignorados como o que fazem na vida. Pois a crise no relacionamento do ministro demissionário com a equipe econômica rolava há meses e alimentava as fofocas no Congresso, especialmente na ativa e atenta bancada ruralista.
Com a omissão do presidente, a sua base parlamentar, que não era grande coisa, desmanchou, cada qual buscando a salvação do mandato milionário em clima de salve-se-quem-puder.
O presidente não sabe que o Senado não votou o Fundep porque o Congresso está engasgado com o excesso de medidas provisórias que paralisam a Casa de pouca atividade, viciada na madraçaria da semana de dois a três dias úteis.
O governo que está sendo vendido nos discursos do candidato dá a nítida impressão do estabelecimento que fechou para balanço. Entre os êxitos de mais recente divulgação, inclui-se a classificação do Brasil, na pesquisa do Banco Mundial, como o segundo país mais caro da América do Sul, atrás apenas do Chile.
Para não perder o costume, a recém-instalada CPI das Sanguessugas aprovou a convocação de seis envolvidos no escândalo da vez da fraude para a compra e venda de ambulâncias superfaturadas com verbas do Ministério da Saúde.
Assunto para o horário de propaganda eleitoral é o que não vai faltar.
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