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Foi com seu Festival de Besteira que Assola o País, o Febeapá, lançado em plena vigência da "Redentora", apelido do regime militar de 1964, que Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo de Sérgio Porto, alcançou grande sucesso literário. Ele afirmava ser difícil precisar o dia em que as besteiras começaram mas, falecido em 1968, o saudoso Stanislaw não teve oportunidade de presenciar que o Febeapá, ao menos nas questões ligadas ao setor elétrico, perdura.

Quando as luzes se apagaram para significativa parcela da população brasileira na noite de 11 de novembro, alguns "especialistas" entraram em ação, e verificou-se que o Febeapá continua com força total.

Pelas informações que temos até o momento, o fato ocorrido foi a perda total da geração da Hidrelétrica Itaipu (em plena carga na hora da ocorrência), que foi isolada do sistema interligado nacional (SIN) pelo desligamento das cinco linhas de transmissão que garantem a conexão. Não ocorreu, por algum motivo, o ilhamento do problema, o que preservaria o sistema, que foi sendo gradativamente "derrubado" (efeito dominó).

O interessante é que, a partir de esparsas informações, os "especialistas" dispararam o falatório, com análises rápidas, aparentemente "completas" e "conclusivas", sobre a ocorrência. Citou-se desde a falta de investimentos no sistema de transmissão e geração até supostas "barbeiragens" por parte do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), com menções de que usinas termelétricas deveriam estar operando (às favas a modicidade tarifária!), que a recuperação do sistema tinha sido lenta (em relação a quê?), relacionaram com o racionamento de 2001/2002, apontaram como causa do evento o mercado livre de energia (misturou-se, sem cerimônia, aspectos técnicos com institucionais), que o sistema elétrico brasileiro é frágil e demasiadamente interligado (sic) etc.

Blecautes em pleno século 21 não são "privilégio" do Brasil, que nos últimos anos, além do recente blecaute, teve problemas similares em 1999 (dez estados e o Distrito Federal), em 2005 (parte do estado do Rio de Janeiro) e em 2007 (Espírito Santo afetado). No mundo, os blecautes atingiram, nos últimos anos, milhões de pessoas, inclusive na América do Norte e na Europa. Destacaram-se o maior, ocorrido em 2005 na Indonésia (100 milhões de pessoas ficaram até 12 horas sem energia); e o dos Estados Unidos e parte do Canadá, em 2003, quando cerca de 50 milhões de pessoas foram afetadas. Nesse último caso, somente se restaurou plenamente a energia após dois dias.

Talvez a mais absurda das afirmações dos "especialistas" tenha sido indicar a falta de investimentos como causa do blecaute. O que vem ocorrendo é exatamente o oposto. Empresas privadas e estatais investiram, e muito, ao longo dos últimos anos. O sistema de transmissão, por exemplo, tem sido expandido a uma taxa média acima da evolução da demanda e da geração, o que resultou na eliminação de um passivo histórico de gargalos de transporte de energia elétrica.

No que se refere a geração, os leilões realizados a partir de 2005 possibilitam o abastecimento atual e nos próximos anos — embora, por falta de inventários de rios e dificuldades de licenciamento ambiental, a energia proveniente de hidrelétricas, vocação natural do país, não tenha participado nos leilões com a intensidade desejada.

Luiz Fernando Leone Vianna é ex-diretor da Copel e presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Energia Elétrica (Apine)

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