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No início da década de 1960, a Holanda entrou em crise, incentivada pela desindustrialização de sua economia, que sofreu com a valorização de sua moeda, após descobertas de grandes reservas de gás no nordeste do país. Teria o Brasil sofrido dessa doença holandesa? O dólar chegou perto de R$ 1,50 em 2007 e 2011 e, com isso, as indústrias foram sufocadas. Por coincidência ou não, isso ocorreu logo após o governo brasileiro anunciar as reservas do pré-sal.

Se não bastasse isso, o ímpeto protetor do nosso governo e de Luciano Coutinho, presidente do BNDES, incentivou o conteúdo local para os exploradores de petróleo e seus fornecedores. Em resumo, o banco de desenvolvimento estatal empresta dinheiro para que os fornecedores da Petrobras produzam no Brasil.

Essa política acabou causando um entrave e, em março de 2014, a presidente da Petrobras, Graça Foster, declarou que não era possível fazer tudo no Brasil e que a produção da Petrobras não podia esperar. Há boatos de que Luciano Coutinho quer ressuscitar essas práticas, mas peço uma pausa e lanço uma pergunta: será que o Brasil tem a vocação para fornecimento para a indústria do petróleo?

Nosso governo não é capaz nem de fazer um orçamento, imagine projetar os ganhos futuros do petróleo do pré-sal

Além disso, será que seria vantajoso para o nosso governo conceder empréstimos com juros baixos, enquanto paga 15% ao ano na emissão dos títulos públicos? E ainda: seria o governo capaz de dizer que economicamente será vantajoso para a população criar incentivos para o setor de petróleo? Quanto se gasta com incentivos de proteção à indústria local? Não somos bons o bastante para conquistar mercados com a nossa própria competência? Talvez essa política seja apenas um engodo para “incentivar” o desenvolvimento econômico de empresas “parceiras” do governo atual.

Um estudo do Ipea, desenvolvido em 2012 por Carlos Eduardo Xavier Junior, conclui que políticas de conteúdo local podem ser prejudiciais à economia, e sugere que o país deveria fazer uma reflexão sobre os setores parapetroleiros nacionais que não possuem condições de desenvolver competitividade internacional.

Convenhamos, quem acha que o nosso governo é capaz de identificar os setores parapetroleiros que possuem essa vocação? Águas ultraprofundas são nossa vocação? Não; até o momento foi apenas uma oportunidade utópica que emergiu no discurso propagandista do governo. Além disso, quem acha que nossos governantes são capazes de saber se a taxa de retorno dos projetos de águas profundas serão atrativas o bastante para justificar tais investimentos? Nosso governo não é capaz nem de fazer um orçamento, imagine projetar os ganhos futuros do petróleo do pré-sal.

Para uma questão não restam dúvidas: o Estado brasileiro é ineficiente e, se continuar subjugando o mercado, a vaca irá para o brejo – ou melhor, para as águas ultraprofundas. Quem sabe assim ela não livra o nosso rebanho da doença holandesa.

Raphael Cordeiro, consultor financeiro e sócio da Inva Capital, é professor de Finanças Pessoais da Universidade Positivo.
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