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Opinião do dia 1

O boom dos automóveis no Brasil

As vendas reais do comércio varejista brasileiro aumentaram 10,6% entre janeiro e junho de 2008, frente os primeiros seis meses de 2007, puxadas por equipamentos e materiais de escritório, informática e comunicação (30,9%), veículos, motos, partes e peças (22,3%) e móveis e eletrodomésticos (18,5%), de acordo com pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A raiz desse comportamento estaria na continuidade da restauração dos níveis de renda das famílias, em razão da ampliação do contingente ocupado e dos incrementos reais de salários, liderados pelo mínimo, na ampliação da massa de recursos creditícios e na competitividade dos produtos importados atrelada ao câmbio valorizado.

Porém, é imperioso sublinhar a relevância da estratégia assumida pela performance dos itens de material de transporte, sobretudo pelos efeitos multiplicadores dinâmicos exercidos para frente e para trás em diversas cadeias produtivas. Especificamente a produção e os licenciamentos de veículos totalizaram 2,32 milhões e 1,94 milhões de unidades, respectivamente, nos primeiros oito meses do ano. Isso equivaleu a acréscimos de 20,3% e 26,4%, quando feito o cotejo com igual intervalo de 2007. Com tais resultados, o Brasil assumiu o sexto posto na produção mundial de veículos, superando a França, e ficando atrás de Japão (6,1 milhões), China (5,2 milhões), Estados Unidos (4,9 milhões), Alemanha (3,3 milhões) e Coréia (2,1 milhões).

A quantidade comercializada de caminhões passou de 70 mil unidades, com variação superior a 30% em relação aos primeiros oito meses de 2007. No segmento de automóveis comerciais e leves, nestes oito meses, a Fiat preservou a liderança no mercado (25,1% do total), seguida pela Volkswagen (21,8%), General Motors (21,3%) e Ford (9,5%). Dentre as novas marcas, a Renault ficou com 4,3%, graças ao lançamento do Sendero, a Honda com 4,1%, a Toyota (2,7%), a Citroën (2,6%), a Hyundai (1,6%) e a Mitsubishi (1,4%).

A importação de veículos aumentou 64,2%, sendo 64,9% para leves, 48,6% para ônibus e 28% para caminhões. Inclusive, o Brasil deverá representar o segundo maior mercado da Volks em 2008, desbancando a Alemanha e ficando atrás apenas da China.

Tal performance pode ser imputada essencialmente ao revigoramento da demanda interna, verificado desde o final de 2005, explicado pela conjugação de alguns fatores positivos, principalmente o alargamento da oferta e a redução do custo do crédito, inclusive com a ampliação dos prazos de pagamento, e a recomposição da renda, vinculada ao acréscimo da massa de salários, resultante da recuperação dos níveis de emprego, especialmente os formais, e da conquista de reajustes reais das remunerações, por ocasião dos dissídios da maioria das categorias de trabalhadores.

Ressalte-se que a impulsão da confiança na manutenção do emprego, associada à estabilidade econômica, ao lado da consolidação das condições creditícias propícias, estimularam principalmente o consumo de bens duráveis por parte da classe C da sociedade, que aufere renda média mensal próxima de R$ 1.200. Igualmente relevante foi a disseminação da modalidade bicombustíveis, responsável por mais de 80% das vendas entre janeiro e agosto de 2008.

Por certo, existem riscos de arrefecimento das vendas em razão de possível retração da demanda provocada pela elevação dos juros, capitaneada pelo Banco Central, e o encurtamento dos prazos de financiamento. Emerge ainda a possibilidade de ocorrência de estrangulamentos no suprimento de autopeças, devido à operação à plena carga das plantas e ao descompasso temporal entre o aquecimento do consumo e a maturação dos investimentos realizados pelas empresas.

Não por acaso, de acordo com projeções da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), montadoras e fabricantes de autopeças devem investir US$ 22,7 bilhões até 2011, resultando em incremento de 56% da capacidade produtiva, que alcançará 6 milhões de unidades em 2013.

Gilmar Mendes Lourenço é economista, coordenador do Curso de Ciências Econômicas e editor da revista Vitrine da Conjuntura, da FAE Business School.

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