“Revoltarmo-nos contra a tirania é obedecer a Deus.” (Thomas Jefferson)
A literatura é palco de grandes reflexões e de grandes despertamentos sobre nós e o outro. Não há como ler um clássico, tê-lo compreendido e sobre cada página refletido, e ainda ser o mesmo. Nisto se encontra a grandeza da literatura: permitir ao homem adentrar em questionamentos que já não possuem lugar no jornalismo, na escola e na universidade.
Em artigo que publiquei sobre a obra Ben-Hur: Uma história dos tempos de Cristo ,escrevi: “Reler um livro é sempre uma surpresa e uma redescoberta; redescoberta, pois, embora já tenhamos adentrado suas paisagens e perscrutado a mente de suas personagens, não somos o mesmo leitor, muitas leituras foram feitas depois daquela primeira e muitas experiências foram vividas depois, o que torna esse novo encontro notadamente mais profundo, atento e com significados diferentes e talvez até mesmo únicos. Surpresa, sim, devemos reconhecer que um clássico nunca se extingue em sua riqueza estética e conteudística; ao contrário, ele nos confronta a cada releitura e nos desafia a vermos, percebermos e compreendermos tudo que escapou às anteriores leituras, nisso está o surpreendente, como diria o brilhante Italo Calvino: ‘Toda releitura de um clássico é uma leitura de descoberta como a primeira’ e ‘Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer’.”
Durante a quarentena, maior que a pandemia do coronavírus é a pandemia do medo e da histeria; diante de uma situação desafiadora e que, sim, dá razões para temor, a população entrega seu bem mais precioso, a liberdade, em prol de uma sensação de bem-estar e segurança totalitárias. O ativismo judicial invade o Poder Legislativo e principalmente o Executivo, rompendo com a harmonia e independência que devia nortear a ação dos três poderes e sua relação. Cidadãos são presos, criminosos são soltos, direitos fundamentais são violentados e tudo isso soa como normal, natural e até necessário não só para a esquerda, em sua eterna busca por poder e controle social, mas até mesmo para certos movimentos e partidos anteriormente contrários ao socialismo, considerados como de direita, que agora, no alto de sua sabedoria e sensatez, colocam-se como os paladinos da justiça e democracia, com fala mansa, terno caro e bem engomado, endossando tais práticas e, ademais, legitimando-as.
Decidi afastar-me das notícias diárias e fui buscar abrigo na literatura; infelizmente, achei mais razões para odiar o mundo durante e depois da quarentena. 1984, de George Orwell; Minority Report, de Philip K. Dick; e O Doador de Memórias, de Lois Lowry, foram meus companheiros durante a última semana e as lições que aprendi me fizeram ver como a democracia brasileira vem sendo esfaqueada dia após dia, definhando, agonizando, tudo isso diante dos nossos olhos.
Com Orwell, vi o claro paralelo entre a Novilíngua e o politicamente correto, a clara intenção de obrigar as pessoas a ver o mundo, entendê-lo, senti-lo e expressá-lo segundo o que defende a esquerda; Pensem como nós ou não pensem, falem segundo o que desejamos ou não falem, dizem nas entrelinhas os novos rostinhos bonitos e belos marionetes das velhas raposas marxistas.
O personagem Winston Smith escreveu em seu diário uma frase que me enfureceu: “Crime de pensamento não acarreta morte: crime de pensamento é morte”. Pensar fora da bolha ideológica esquerdista é pedir a morte acadêmica, é atrair a violência verbal e física, é ser considerado um pária; por isso usam termos como “fascista”, “gado”, “nazista”, qualquer ataque a quem ousa ver a realidade para além das correntes e da censura marxista é visto como um criminoso, um louco, um parasita.
Em Minority Report, Philip K. Dick nos revela um mundo onde o crime é punido antes de ser cometido, cidadãos são presos e vilipendiados antes de haver feito algo ilegal, graças à ajuda de indivíduos especiais, conhecidos como precogs, capazes de ver o futuro. O Judiciário brasileiro deve ter suas levas de precogs; a mídia, que exalta criminosos como Stalin, Lenin e Lula, também deve ter alguns, pois eles possuem o dom de definir uma manifestação ou um presidente como criminosos antes de haver fundamentação para tal.
Por fim, O Doador de Memórias, de Lois Lowry, nos aterroriza ao mostrar uma sociedade perfeita, sem fome, doenças, crimes, raiva, ódio, tristeza, depressão e ansiedade. Todos têm um propósito e veem nele uma completude. Qual a razão? Eles não possuem memória histórica, não conseguem lembrar-se de acontecimentos antes da criação desse mundo maravilhoso. Não se lembram das guerras, não se lembram das secas e da peste, do crime, da dor e, enfim, de nenhum aspecto negativo inerente à vida. Embora pareça um paraíso, tal realidade oculta algo amedrontador. Se não há lembrança do passado e nem do potencial grandioso e destrutivo que reside na humanidade, os indivíduos são meros servos dessa sociedade distópica. Em prol de um mundo perfeito, vale a pena abandonar nossa própria história como povo, nação? Vale destruir as diferenças e nuances que nos tornam únicos para se obter uma falsa sensação de prosperidade e igualdade?
Parece que o povo brasileiro almeja ser um mero escravo do Estado, um servo obediente dos desmandos de poderosos e seus asseclas. Eu, porém, não abandonarei a liberdade, garantida pela Constituição e, acima desta, pela fé em Cristo: “Agora, pois, ó reis, sede prudentes; deixai-vos instruir, juízes da terra. Servi ao Senhor com temor, e alegrai-vos com tremor” (Salmo 2,10-11).
Carlos Alberto Chaves Pessoa Júnior é formado em Letras, professor de inglês e espanhol e consultor bilíngue.
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