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opinião do dia 1

O Brasil e a Terra do Sol Nascente

Os efeitos dos incidentes japoneses irão se manifestar nas nossas exportações de commodities, que serão refletidas em um menor saldo comercial

Nos últimos dias temos observado estarrecidos a triste tragédia que assola o Japão. Terremoto de 8,9 graus na escala Richter, seguido de tsunami e agora um sério risco de acidente nuclear. Já foram registradas 7 mil mortes e 3 mil feridos, e são 11 mil desaparecidos. Números esses que infelizmente só devem apresentar crescimento.

Por outro lado somos conhecedores da fibra e determinação do povo japonês, e não temos dúvida da recuperação que virá a seguir. Essa nação já foi destroçada na Segunda Guerra Mundial e conseguiu com sapiência superar todas as adversidades, para ressurgir nos anos 80 como um fabuloso Tigre asiático, passando a se situar entre as maiores economias mundiais.

Os laços que unem o Japão ao Brasil são estreitos, além da enorme colônia japonesa no nosso País, a maior fora do Japão, iniciada com no período da Revolução Meiji e já miscigenada com a nossa cultura e com o povo, no país oriental concentra-se uma das maiores colônias de brasileiros no exterior.

Também nos aspectos do comércio internacional os nossos laços são estreitos, o Japão é um importante parceiro comercial do Brasil, pois as características geográficas e históricas desses países estimulam esse fato.

O Japão, com as suas limitações territoriais, tem dificuldades na produção de alimentos, sendo um grande importador de commodities agrícolas do Brasil, como soja e milho, além da carne de frango. Ele também é um grande comprador de minérios, principalmente o de ferro. No ano passado, as exportações desse produto superaram US$ 3 bilhões. Essas limitações colocam o Japão como o quinto maior importador mundial, enquanto que, para efeito de referência, nós estamos na vigésima sexta posição.

Pelo lado das exportações, o Japão figura na quarta colocação mundial, e o Brasil na vigésima quarta. As características daquele país, e o citado "renascimento" ocorrido nos anos 80, trouxeram consigo elevado desenvolvimento tecnológico, sendo esse o maior foco das vendas daquele país.

Em 2010 o Japão foi o sexto maior fornecedor de produtos para o Brasil, atingindo a cifra de US$ 7,1 bilhões, concentrados principalmente em produtos e insumos industrializados e dotados de elevada tecnologia como, como autopeças, veículos, computadores, componentes eletrônicos e semicondutores. Também pelo lado das nossas vendas, o Japão foi o sexto maior comprador de produtos brasileiros, US$ 6,98 bilhões.

Com as lamentáveis ocorrências recentes, inevitavelmente sentiremos os seus reflexos. Isso não é novidade, pois sabemos que em um mundo cada vez mais globalizado a relação de interdependência entre os países faz com que o ocorrido em distantes regiões apresente os seus reflexos. Além do fato de outras economias também serem afetadas, resultando em efeitos em cadeia, principalmente quando se trata da terceira maior economia mundial.

Os reflexos dos acidentes japoneses já podem ser sentidos na queda dos preços de produtos agrícolas e minerais. As pressões para a alteração de matrizes energéticas nos países, pelo temor de incidentes nucleares, por outro lado, deverão forçar os preços de outros combustíveis, como o petróleo.

No Brasil, os efeitos dos incidentes japoneses irão se manifestar nas nossas exportações de commodities, que serão refletidas em um menor saldo comercial, além obviamente de queda na produção e na renda deste segmento. As importações, com o provável recuo da produção japonesa, poderão registrar crescimento nos preços de muitos produtos importados, tanto para consumo, como para fins industriais.

Mas depois da tempestade vem a bonança, que ninguém duvide da capacidade do Japão em se recuperar, e no ímpeto desta, novas oportunidades deverão se abrir para as quais deveremos estar atentos. Na retomada após a crise, deveremos ver originadas naquele país forças emanadas para um período de prosperidade mundial.

Carlos Cleto, economista, é professor da FAE.

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