A abundância da chuva, fenômeno típico do verão, provoca dores de cabeça inimagináveis a uma criança que, olhando para o céu, vê as gotículas de água caindo da nuvem negra que possuía forma de tubarão, mas que, por causa do vento, agora parece um crocodilo. Principalmente nos grandes centros urbanos, o excesso de chuva causa graves desastres naturais, de há muito conhecidos e combatidos nos noticiários de novembro a março, mas aos quais são destinados pouquíssimos esforços pelos administradores públicos. Enchentes e desmoronamentos refletem a desgraça propiciada pelo excesso de chuva, que, em vez de cair do céu, parece brotar do inferno.

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De outro lado, também a falta de chuva é intempérie e, nessa condição, provoca estragos. Por causa dela, o Brasil está cada dia mais perto de sofrer mais uma crise no setor eletroenergético, idêntica à deflagrada em 2001-2002, quando apagões ocorreram, também por falta de chuva, graças ao mesmo problema de fundo: falta de investimento (e de atenção) do setor público na ampliação do parque eletroenergético, bem como de esforço eficiente para o desenvolvimento de alternativas para geração de eletricidade – fatores que minimizam a dependência das chuvas por parte do setor elétrico.

A bacia hidrográfica do Brasil é extremamente rica – isso nós ouvimos desde que tínhamos 10 anos, na 4.ª série do ensino fundamental. Especialistas dizem que a quase integral dependência brasileira da energia gerada pelas usinas hidrelétricas se deve a esse fator. O cenário seria perfeito, não fosse um detalhe: o que São Pedro faz lá de cima não tem nada de previsível, e a bacia hidrográfica do Brasil só serve de alguma coisa para a geração de energia se, no curso dos rios, existir água.

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A iminente crise do setor elétrico brasileiro em 2013, diretamente afetada pela falta de chuvas (fator esse que não pode ser controlado pelo ser humano), é indiretamente afetada por vários fatores, uns mais graves, outros menos – mas todos dependentes do homem): podemos citar a falta de investimento público na ampliação das usinas hidrelétricas; a falta de incentivo às autorizações para geração autônoma de energia elétrica (as famosas pequenas centrais hidrelétricas, PCHs); a intervenção repentina nas concessões do setor elétrico (embora com nobre propósito); a má técnica de construção de usinas de geração, direcionando pesados investimentos na construção de usinas do tipo "a fio d’água", que possuem reduzido reservatório e, portanto, dependem de chuvas contínuas; e a falta de incentivo ao desenvolvimento de fontes alternativas de geração de energia elétrica (térmica – solar, queima de combustíveis –, eólica, nuclear, biomassa etc.).

Como de costume, prefere-se desembolsar no remédio a investir na prevenção: em vez de se combater a causa das enchentes, constroem-se "piscinões" para escoamento da água; em vez de se combater a causa dos apagões, institui-se racionamento para poupar energia. Ao que parece, o poder público não aprendeu nada com a crise energética de 2001-2002 e, repetindo os mesmos erros, preferiu rezar para São Pedro a investir no setor. É possível que, nos próximos meses, tenha de rezar no escuro.

Fernando Menegat, advogado, é especialista em Direito Administrativo.