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Estamos num momento único de nossa história: ou o Brasil faz um ajuste fiscal sério até o fim deste ano ou estaremos sacrificando outra década de nossa história. Sim, eu compreendo o esforço da equipe econômica atual. Sim, eu entendo que o déficit primário deste ano – da ordem de R$ 170 bilhões – é culpa do governo anterior. Sim, eu sei que é difícil reduzir o déficit de um ano para outro. Dito tudo isso, afirmo: a economia brasileira não resiste a um déficit primário de R$ 143 bilhões no ano que vem.

Sim, o déficit primário desse ano é culpa de Dilma. Contudo, a verdade é que o governo atual concedeu reajustes a salários de funcionários públicos e ao Bolsa Família. Tais reajustes poderiam ter sido negados, apesar do custo político que tal decisão teria. Além disso, não é possível aceitar um déficit primário acima de R$ 140 bilhões para 2017. Honestamente, não acredito que um déficit dessa magnitude consiga ser financiado com dívida pública a um custo razoável para a sociedade. Um rombo desse tamanho destrói a credibilidade tanto da política fiscal quanto da política monetária. O Brasil já terá um déficit de R$ 170 bilhões neste ano; não podemos nos dar ao luxo de outro resultado similar. Nosso país precisa de um sério ajuste fiscal que reduza pesadamente o gasto público.

Ou fazemos o ajuste fiscal e as grandes reformas ou sofreremos ainda por muitos anos

Vários estados já estão renegociando suas dívidas com a União; em breve, será a vez de os municípios fazerem o mesmo. Parece existir certa dormência no governo, certa crença de que o mercado irá compreender que o país continuará a ter déficits até 2018. Tal percepção é equivocada; o mercado tem dado crédito à equipe econômica atual, mas tal crédito não é ilimitado. Se o governo insistir nessa trajetória de déficits, em breve essa confiança irá desaparecer assim como o ex-ministro Joaquim Levy perdeu a credibilidade quando se mostrou incapaz de realizar os ajustes necessários.

Confesso meu receio de que tais déficits prenunciem o aumento de impostos. Não cometamos erros aqui: todos sabem que tal trajetória é insustentável. Se o governo não reduzir despesas, tentará retornar com a CPMF e irá aumentar a Cide. Nossa sociedade não tolera mais o aumento de impostos.

É preciso registrar também que os exemplos internacionais de ajustes fiscais de sucesso sugerem que eles são feitos por meio da redução de gastos públicos, e não pelo aumento de impostos. Sendo assim, resta evidente que cabe ao governo atual realizar as mudanças necessárias para reduzir a despesa. O momento clama por um estadista capaz de unir nossa nação ao redor de um projeto fiscalmente responsável que recoloque nossa economia na trajetória de crescimento de longo prazo.

Reforma da previdência, limites rígidos para gastos (incluindo empresas estatais, estados e municípios), ampla privatização de empresas, forte programa de concessões, modernização da legislação trabalhista (acabando inclusive com o absurdo e anacrônico imposto sindical), abertura econômica, desburocratização e simplificação tributária, forte redução no gasto público, entre outras medidas, são fundamentais para recolocar a economia brasileira de volta ao caminho do crescimento sustentável. Ou fazemos o ajuste fiscal e as grandes reformas de que nosso país precisa ou sofreremos ainda por muitos anos.

Que Michel Temer seja o estadista de que nosso país precisa. Não tenha medo! A sociedade irá lhe apoiar no ajuste fiscal! Diga não ao déficit primário de R$ 143 bilhões em 2017! Façamos os cortes de gastos públicos e os ajustes de que, embora impopulares, nosso país tanto precisa. Não condene o Brasil a outra década perdida!

Adolfo Sachsida, advogado, doutor e pós-doutor em Economia, é autor de Fatores determinantes da riqueza de uma nação e Considerações econômicas, sociais e morais sobre a tributação.
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