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Boa parte do mundo já vive a Quarta Revolução Industrial. É um cenário de alta volatilidade de demanda, em que os desejos de consumo são cada vez mais individualizados e os ciclos de vida dos produtos, igualmente mais curtos.
Nesse contexto, cresce a competitividade, exigindo do setor produtivo um permanente esforço de eficiência de recursos. A globalização das cadeias de valor leva todos a um novo patamar de industrialização, mais tecnológico, estratégico e inteligente, buscando otimizar processos antes feitos manualmente.
O que se vê é o aprimoramento de tecnologias como internet das coisas (IoT), robótica, big data e cloud computing. Para permanecerem no mercado, as empresas têm sido impelidas a adotar a transformação digital. A Indústria 4.0 vai promover um encurtamento dos prazos de lançamento de novos produtos no mercado, proporcionar maior flexibilidade nas linhas de produção e ampliar o ganho de eficiência no uso de recursos naturais e energia.
Entre as estrelas da Indústria 4.0 estão o Big Data Analytics, estruturas de dados muito extensas e complexas que utilizam novas abordagens para a captura, análise e gerenciamento de informações. Na Industria 4.0, o Big Data consiste em seis Cs para lidar com informações relevantes: Conexão (à rede industrial, sensores e CLPs), Cloud (nuvem/dados por demanda), Cyber (modelo e memória), Conteúdo, Comunidade (compartilhamento das informações) e Customização.
Não se trata apenas de tecnologia e máquinas. É sobre pessoas. Aumentarão as exigências para a força de trabalho, com profissionais que precisarão se manter cada vez mais informados e qualificados. Isso vai abrir novas oportunidades de emprego em funções como gestor de flexibilidade, troubleshooter (especialista em solucionar problemas), avaliador de qualidade, desenvolvedor independente etc. Em paralelo, esse contexto eliminará outras vagas com operações manuais, monótonas e de grande exigência física.
Estes avanços vêm estimulando uma corrida pela inovação. É o caso da Alemanha, onde estive recentemente e de onde voltei impressionado. Pude conhecer de perto essa chamada Indústria 4.0, que se originou a partir de um projeto de estratégias do governo alemão voltadas à tecnologia. O termo foi usado pela primeira vez na Feira de Hannover em 2011.
Essa observação de campo me deixou, ao mesmo tempo, bastante preocupado diante da realidade da indústria brasileira. Basta recorrer aos dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que apontam uma queda da participação no PIB da indústria de transformação, de 46,3% em 1989 para 22% em 2018.
É preciso um plano com medidas de curto, médio e longo prazo para que a indústria brasileira possa ganhar competitividade. Mais do que aparelhagem e tecnologia, é indispensável desenvolver gente com novas habilidades, conhecimentos, técnicas e competências. O maior de todos os obstáculos está nas PMEs, que representam 98,5% das companhias existentes no país. Vendendo o almoço para comprar o jantar, depois de anos de recessão, elas naturalmente têm mais dificuldade em aplicar os conceitos da Indústria 4.0. Para mudar isso, é preciso que elas estejam bem informadas e motivadas.
Os desafios são imensos e é essencial criar uma estratégia que promova a inovação, buscando uma integração de esforço entre os governos federal e estaduais, as universidades, instituições de pesquisa, sociedade civil e as instituições de classes. É um jogo de ganha-ganha.
O Brasil, portanto, precisa urgentemente de uma política industrial que mude essa rota, gerando renda e empregos de qualidade. Sem isso, estaremos fadados a ficar fora da nova economia mundial, perdendo relevância em áreas estratégicas da Industria 4.0.
Assim como na Alemanha, esse desafio de transformação é coletivo – não apenas da indústria. O país não pode perder tempo. Precisa adotar uma estratégia integrada, criando linhas de financiamento em bancos de desenvolvimento (BNDES e regionais) e outras políticas capazes de levar a sociedade para esse novo ciclo de desenvolvimento.
Rogério Nery de Siqueira Silva é CEO do Grupo Integração e ex-secretário de Desenvolvimento Econômico do estado de Minas Gerais.