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Uma das maiores preocupações de todo brasileiro com a realização dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, era a possível falta de legado. Diante da crise econômica e política na qual o Brasil se encontra, esse temor era, sem dúvidas, justificado.

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Há muitos tipos de legado, como por exemplo as intervenções urbanísticas e de transporte. O legado esportivo estaria no aumento do interesse do brasileiro por outras modalidades. Ganhamos medalhas em provas nas quais não tínhamos tradição, como a canoagem e o tiro. Em outros esportes, mesmo sem medalhas, tivemos resultados expressivos, como na esgrima. Creio, sim, que existiu um pequeno avanço das outras modalidades, mas esta é uma comparação muito difícil de fazer, e até mesmo um tanto polêmica. O futebol é ponto fora da curva; sempre será indiscutível e talvez inquestionável.

Vejo o público brasileiro mais atento e ligado a outros esportes; se não há um interesse forte, há pelo menos a curiosidade. Fizemos uma festa belíssima na Rio 2016, o que deixou o povo mais animado. No mês passado, por exemplo, tivemos mais de 20 mil pessoas na final da Liga Mundial, realizada dentro de um estádio de futebol em Curitiba. Para mim, este é um sinal de que o Brasil tem espaço para que os clubes de futebol colaborem com a ampliação das modalidades olímpicas, como o Cruzeiro faz no voleibol, ou como o Flamengo faz no basquete – dois exemplos de sucesso nos últimos anos, com conquistas expressivas nacional e internacionalmente.

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Devemos ter a humildade de copiar modelos de desenvolvimento esportivo como o dos Estados Unidos

Acompanho de perto o vôlei e vejo que sempre tivemos um legado. No Rio, este legado foi deixado tanto dentro de quadra quanto fora. Depois do título memorável contra a Itália no Maracanãzinho, a saída de Bernardinho, meu “patrão” durante anos, foi a mudança mais significativa. Mas a base do time foi inteligentemente mantida por Renan dal Zotto, grande amigo e grande técnico. O resultado foi o vice-campeonato da Liga Mundial, em uma competição que mostrou que o brasileiro passou a gostar mais ainda de vôlei, com ótimos públicos na Arena da Baixada e uma festa maravilhosa.

Durante a Rio 2016, o voleibol foi a única modalidade a ter a sua casa própria, ação pioneira da Federação Internacional de Vôlei (FIVB). Lá, por exemplo, ocorreram o lançamento e a apresentação da Comissão Mundial dos Atletas, da qual sou presidente. Diversos craques do esporte passaram por lá e vivenciaram momentos intensos e bacanas com o chamado mundo do vôlei. Durante os Jogos Olímpicos, a FIVB alugou uma escola pública em Copacabana, fez reformas e melhorias no local, e devolveu ao estado do Rio de Janeiro algo bem melhor do que recebeu. Mais um legado e um pontaço. A iniciativa foi tão bem recebida que diversas outras modalidades devem copiá-la e ter suas “casas” em Tóquio 2020.

Analisar e comparar outras modalidades está fora da minha realidade, mas não é preciso estar imerso nos outros esportes para ver como é preocupante que o Parque Olímpico esteja da forma como está, absolutamente largado, sem utilização alguma na maior parte do tempo. Vimos recentemente uma competição de vôlei de praia ser disputada em uma arena de tênis! E, para completar o descaso, houve o lamentável incêndio do Velódromo, uma instalação de qualidade internacional, feita com o melhor material existente.

Opinião da Gazeta:Abandono olímpico (editorial de 28 de fevereiro de 2017)

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Rodrigo Constantino:As sete lições olímpicas (18 de agosto de 2016)

Mas, para isso melhorar, vamos recorrer ao lugar comum, lembrando que é mais que necessária a ajuda da iniciativa pública e privada, independentemente da crise que vivemos. Costumo dizer: na crise, crie; faça algo diferente. Investir no esporte, aproveitando os resquícios da Rio 2016, talvez fosse uma dessas diferenças.

Cada um tem sua maneira de ver as situações. Prefiro sempre ver o lado positivo e as coisas boas que os percalços nos trazem. Temos muito a lamentar, mas devemos seguir em frente e aprender com a história, com os erros, e buscar melhorar e seguir em frente. Devemos ter a humildade de copiar modelos de desenvolvimento como o dos Estados Unidos, com incentivo ao estudo antes do esporte, desenvolvendo talentos e formando cidadãos. No fim das contas, são os cidadãos que constroem um país melhor – e este, sim, é um legado que supera todos os outros.

Gilberto Godoy Filho, o Giba, é campeão olímpico de vôlei e coordenador do Madero CWB, time profissional de vôlei feminino em Curitiba.