O buraco negro da crise

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Há algumas semanas a física internacional fez uma de suas mais importantes descobertas. Por meio de estudos desenvolvidos por um grupo de físicos oriundos de diversos países reunidos no Observatório da Interferometria a Laser de Ondas Gravitacionais, nos EUA, foi possível captar ondas gravitacionais advindas do choque de dois buracos negros, o que representa uma evidência prática da Teoria da Relatividade de Albert Einstein.

Apesar da presença de físicos brasileiros na equipe que fez tal descoberta, o Brasil praticamente não deu atenção a esse surpreendente avanço, pois estava e está absorto em seu próprio buraco negro: mais uma crise política e econômica, que, assim como as suas diversas antecessoras, também decorre da forma como costumeiramente a coisa pública é tratada nestes tristes trópicos.

A geração de políticos que surgiu da oposição ou não à ditadura militar decepcionou e muito

 

O que diferencia este momento crítico dos demais é o importante papel desempenhado pela Justiça, pela polícia e pelo Ministério Público, haja vista que a crise surgiu principalmente a partir de investigações criminais cujas últimas notícias mostram, inclusive, o envolvimento de oposicionistas em supostas irregularidades, fato este que acaba por deixar o país órfão de referências políticas, daí a aversão dos manifestantes contrários ao governo à participação de partidos e políticos em seus atos de protesto. E essa aversão não é gratuita. A geração de políticos que surgiu da oposição ou não à ditadura militar decepcionou e muito. O maniqueísmo daquela época, infelizmente, ainda se faz presente dos dois lados.

É impossível acreditar que ainda não se percebeu que o país não precisa de políticos que sejam empresários, intelectuais, sindicalistas ou celebridades. Isso não basta. O país precisa de instituições que formem líderes, à direita e à esquerda, que sejam permeados pela moderação e que tenham como objetivo a melhoria da qualidade de vida da população.

O diálogo civilizado entre os diversos ideais políticos, além de ser sadio e necessário para o aperfeiçoamento das ações, não implica na abdicação de posições, pois ninguém tem o monopólio da verdade.

A história mostra que a retórica extremista já provocou convulsões sociais que trouxeram mais sofrimentos que avanços. O que hoje se vê no país é o recrudescimento da intolerância, pois ao mesmo tempo em que parcela significativa da população se revolta – com todo o direito – contra um governo que se mostrou corrupto, ineficiente e arrogante, grupos radicais pregam rupturas oportunistas. Sem falar nos situacionistas que, com a estratégia da vitimização, atribuem genérica e indevidamente aos demais a pecha de golpistas, banalizando assim o debate político pela ética.

Oposição e situação se revezam nesse cenário com a finalidade única de melhor tirar proveito da situação, na tentativa de se fortalecer em suas respectivas posições num velho jogo que há muito perdeu a graça.

Enquanto isso, não se dá a menor importância às ondas gravitacionais dos verdadeiros buracos negros e, mais uma vez, oportunidades históricas passam à frente dos brasileiros.