Ouça este conteúdo
Quando a pandemia da Covid-19 foi decretada, havia muita incerteza acerca do novo vírus. Ainda há, para falar a verdade, pois estamos descobrindo características do coronavírus no decorrer da pandemia. Digo isso para ser justo e servir como atenuante a qualquer crítica eventual. Não era fácil a posição das autoridades no comando de cidades, estados e países em meio a essa crise.
Mas é preciso recordar da postura de alguns, pois as críticas foram feitas ainda na época de maior dúvida. Enquanto uns poucos tentaram justamente frisar esse grau de desconhecimento, e sopesar riscos e custos de certas medidas drásticas, outros embarcaram numa narrativa arrogante de monopólio da “ciência” e impediram qualquer debate sério sobre a questão.
Fiquem em casa, repetiam em coro. As diretrizes da OMS eram tratadas como verdades reveladas, sendo que a entidade se mostrou mais perdida que cego em tiroteio desde o começo, inclusive demorando para constatar a pandemia. Isso sem falar de seus laços suspeitos com a ditadura chinesa, que passou a ser elogiada por sua reação ao vírus que lá surgiu.
Nada disso importou. O sensacionalismo falou mais alto, parte da mídia espalhou pânico e a histeria tomou conta do país – ou da elite, ao menos. Governadores passaram a impor um isolamento radical, a polícia chegou a prender banhistas ou senhoras em praça pública, e os “isolacionistas” continuaram aplaudindo. Ciência, ciência, ciência, diziam. O foco era só a “saúde”, e pensar em economia era coisa de gente insensível, quiçá sociopata.
Impossível negar o oportunismo político também, já que politizaram até mesmo um remédio! A hidroxocloroquina, usada sem problemas há décadas de forma até profilática, virou alvo dos críticos do presidente. Bolsonaro passou a ser retratado como um “genocida” que não pensava nas vítimas, um obscurantista que ignorava a ciência.
O governador de São Paulo, João Doria, tentou ocupar o espaço da oposição apresentando-se como o oposto do presidente, e disse que Bolsonaro estava preocupado em atender empresários em vez de defender a vida dos brasileiros. Ronaldo Caiado foi na mesma linha e disse que não cederia a “vertentes populistas e inconsequentes” para reabrir empresas. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, fez coro e afirmou que pedir o fim do isolamento era pressão de quem estava “perdendo dinheiro na bolsa”.
Enquanto isso, Bolsonaro alertava para o custo enorme da paralisia, lembrando que economia também é vida e que o remédio não pode ser pior que a doença. Foi ignorado, ridicularizado e demonizado. Não discordo que sua forma de colocar tais pontos foi equivocada inúmeras vezes, parecendo mesmo insensível. Bolsonaro é tosco, bronco, não filtra sua fala com marqueteiros “prudentes e sofisticados”.
Mas ele estava falando a língua do povo, enquanto seus oponentes se fecharam na bolha “progressista”. E à medida que os fatos se desenrolavam, a situação dos “isolacionistas” se complicava. É verdade que fizeram muito barulho quando o Brasil chegou a 100 mil mortes, isso depois de destacarem números absolutos, esquecendo do tamanho da população brasileira.
Não vem ao caso aqui questionar essa marca, mas vale notar que estudos norte-americanos apontaram que em apenas 6% das mortes as vítimas não tinham nenhuma outra comorbidade que contribuiu para o óbito; os outros 94% tinham alguma condição que tornou a doença mais mortal. Só que a tentativa de colocar na conta do presidente essa contagem mórbida não funcionou, até porque as medidas ficaram a cargo dos governadores, segundo decisão do próprio STF.
O povo cansou, as aglomerações aumentaram, mas a quantidade de infectados e de óbitos seguiu caindo. Na Argentina, cujo presidente esquerdista seguiu a linha dos “isolacionistas” radicais e impôs continuado lockdown, a quantidade de mortos atingiu patamares recordes, mostrando que a receita não era tão científica quanto os “progressistas” pensaram.
O governo, então, divulgou o resultado do PIB esta semana, e a queda foi de quase 10%. Era esperado, até porque paralisaram várias atividades. O que fez a turma “isolacionista”? Fingiu que nada tinha acontecido, esqueceu até da pandemia, e tentou culpar o governo pela tragédia! Jornalistas divulgaram o resultado sem destacar a pandemia nas chamadas, como se o produto tivesse desabado do nada, por alguma trapalhada do governo. Não vai colar.
O povo pode ter memória curta, mas não é desmiolado. E está muito recente a lembrança desse pessoal repetindo “fiquem em casa”, já que o foco deveria ser somente a saúde. Esses mesmos jornalistas deixaram de fora de suas “análises” o resultado de outros países, que chegaram a apresentar quedas ainda mais acentuadas da atividade. É como se a pandemia tivesse sumido do mapa de repente. Isso não é nada honesto.
Se foi intuição ou cálculo político, não sabemos. O fato é que Bolsonaro sai maior do que entrou nessa pandemia, e isso mesmo com suas falas desastradas, dando munição para seus opositores. Se ele tivesse mantido a boca mais fechada, não é absurdo imaginar que sairia um gigante agora, com popularidade imbatível.
Parte da imprensa tenta resumir o aumento de sua popularidade ao auxílio emergencial, mas isso não conta, nem de perto, toda a história. O povo viu no presidente alguém preocupado com sua realidade, acostumado a correr riscos no dia a dia para sobreviver. Quem já depende do SUS não vai ficar apavorado e paralisado por conta do risco de falta de leitos, pois esse é o seu cotidiano. Mas trabalhar é preciso, pois no andar de baixo tem de matar um leão por dia para comer.
Quem mostrou maior insensibilidade, no fundo, foi a turma da quarentena gourmet. Fizeram de tudo para colocar todos contra Bolsonaro, mas o tiro saiu pela culatra. Se dobrarem a aposta agora, escancarando o oportunismo ao jogar para o colo do presidente o desastre econômico, estarão simplesmente garantindo sua reeleição em 2022. Se foi um cálculo, Bolsonaro acertou. E seus adversários estão completamente perdidos.
Rodrigo Constantino, economista e jornalista, é presidente do Conselho do Instituto Liberal.