Ser o "dono" do tempo significa ser dono de experiências de fatos vividos. Muito do que se aprende serve para evitar erros ou ao menos tentar evitá-los.
Dias atrás, estive num assentamento rural no interior do Paraná, quando um senhor, olhando para as minhas barbas brancas, disse: "O senhor deve ter uns 70 anos".
Ao mesmo tempo em que ele me achava um idoso, eu pensava: "Este homem parece ter quase 70, mas deve ser da minha idade". Em seguida, informei a minha idade. Ele se assustou e reagiu: "Não parece. Engraçado, tem a mesma idade que eu, e não parece". Temos duas idades: a do calendário, que dá as datas dos aniversários, e a do tempo. A do calendário marca a idade cronológica (anos de vida). A do tempo, a idade da qualidade da vida (característica do trabalho, renda, acesso a serviços de saúde, lazer, alimentação, etc.). Esta última transparece na aparência e na percepção do olhar do outro. Qual é a relação entre o calendário e o tempo? O tempo passa, apesar do calendário. O calendário e o relógio marcam o tempo matemático, que tenta se impor ao tempo natural e biológico. Caso esses dispositivos não existissem, o tempo passaria da mesma maneira. Do mesmo jeito, envelheceríamos. Portanto, não adianta quebrar o relógio e rasgar o calendário. O tempo não pára e o envelhecimento é inevitável para todos que estão vivos. O que resta a cada um é ser dono do seu tempo. É muito difícil ser dono do tempo presente. Ele nos domina nas suas exigências e afazeres. Ser dono do tempo futuro é impossível. Alguns chegam inclusive a dizer que o futuro a Deus pertence. Portanto, Ele deve ser o dono desse tempo.
Mas é possível ser dono do tempo passado. É assim que me sinto, pois já comecei a repetir: "No meu tempo..." E, para sermos dono desse tempo, talvez seja preciso um calendário para afirmar: "no meu tempo, lá por mil novecentos e ...". Independentemente de calendário, há tempo para tudo Eclesiastes não usou calendário para afirmar que há tempo para nascer e tempo para morrer e para todos, inclusive para as pedras que, estáticas pelo tempo, acumulam limo. Ser o dono do tempo significa ser dono de experiências de fatos vividos. E é importante para a vida do presente e para o futuro. Muito do que se aprende serve para evitar erros ou ao menos tentar evitá-los. Mas sempre existiram os preocupados em como marcar o tempo. Para tanto, inventaram o calendário e o relógio. Não se sabe ao certo qual foi inventado antes. O calendário é um sistema de medição do tempo inventado para as necessidades da vida cotidiana, com suas subdivisões em dias, meses e anos. É tal necessidade que marca aniversários, feriados, domingos e passagens de ano. Desde 15 de outubro de 1582 vivemos sob o calendário gregoriano, estabelecido por decreto assinado pelo Papa Gregório XIII, que no seu tempo viveu sob dois calendários o dele próprio e o inventado por Julio César (calendário juliano). Sem nunca se perder no tempo marcado pelo relógio biológico, pelo nascimento e a morte , o homem, num período da história, perdeu-se nos calendários. Por mais de dois séculos, usava-se tanto o 25 de dezembro quanto o primeiro de janeiro como início de um novo ano. Somente a partir do uso do calendário gregoriano, o calendário da "Era Cristã", é fixado o 25 de dezembro como a data do nascimento de Cristo, e o primeiro de janeiro como a data de início do "ano novo".
No século XIX, com melhores condições tecnológicas e mais informações da história, descobriu-se um grave erro de cálculo. Cristo nasceu no ano 4 antes de Cristo (a.C.). Nasceu, portanto, antes do que supunha o calendário de Gregório.
Antes que nos percamos tal como Gregório se é que já não estamos perdidos , desejemos, de acordo com o calendário em vigor, um bom ano-novo para todos.
Dr. Rosinha é médico pediatra e sanitarista, deputado federal (PT-PR) e secretário-geral da Comissão do Mercosul.