O processo de valorização cambial que se iniciou no final de 2002 tem como principais causas o elevado nível da taxa de juros brasileira em relação aos demais países e o bom desempenho do segmento exportador de commodities e produtos industriais básicos, beneficiados pela alta expressiva dos preços, estimulada principalmente pela demanda dos países asiáticos. Isso explica o fato do saldo da balança comercial continuar favorável apesar do processo de valorização cambial.
Esse processo de valorização que eleva o preço dos produtos brasileiros exportados e reduz o preço dos produtos importados de outros países acaba tendo conseqüências sobre o crescimento de longo prazo da economia. Um importante argumento é que ele leva à perda de competitividade de alguns setores que são chaves na criação de emprego e no desenvolvimento econômico de longo-prazo.
No caso paranaense, alguns testes estatísticos indicam que o recente processo de valorização da taxa de câmbio está provocando pressões sobre o setor exportador de forma a retardar a sua expansão, além de incentivar as importações. Esses testes também indicam que o tempo entre variações na taxa de câmbio e mudanças nos níveis de exportações e importações paranaenses começam a ser percebidos após, pelo menos, um ano. Assim, a valorização que se iniciou no final de 2002 começou a gerar impactos sobre a estrutura produtiva do estado em 2004 e com a continuação desse processo, os maiores efeitos se deram em 2005 e 2006.
A indústria de transformação paranaense, que apresentou uma importante expansão a partir da segunda metade da década de 1990, é um dos segmentos que está sofrendo com esse processo. Tal segmento da indústria realizou contratações líquidas, isto é, total de admissões menos as demissões, de 47.860 empregos em 2004. Em 2005 e 2006 os números de contratações líquidas foram de 13.667 e 21.118, respectivamente. Estes números ficam bastante aquém das contratações líquidas de 2003 (62.370), 2002 (58.589) e 2001 (53.857), a partir das informações do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados.
Adicionalmente, as atividades que mais estão sentindo a pressão do processo de valorização cambial são as que apresentam forte competitividade via preços. Esse é o caso das que são intensivas em trabalho, ou seja, aquelas que empregam uma grande quantidade de trabalhadores em relação à quantidade produzida. Por exemplo, nas indústrias têxteis e de vestuário a quantidade de contrações líquidas em 2004 foi de 7.352 trabalhadores, enquanto que em 2005 e 2006 foram de 1.711 e 2.893 trabalhadores, respectivamente. Na indústria madeireira e mobiliária, a situação se mostrou ainda menos favorável: as contratações líquidas em 2004 foram de 5.365; em 2005, de -4.209, ou seja, ocorreram mais demissões do que contratações; e em 2006 o saldo também foi negativo, de -2.271. Cabe lembrar que estes dois segmentos estão entre os que mantêm um maior número de vínculos empregatícios no Estado.
Outra variável que está prejudicando o desempenho da indústria de transformação é a elevada taxa de juros, visto que ela aumenta os custos de obtenção de capital e, portanto, de investimentos da economia como um todo. Assim, o desempenho do setor exportador paranaense está sofrendo um duplo impacto negativo com a valorizada taxa de câmbio e elevada taxa de juros.
A conclusão que se pode chegar é de que o processo de valorização cambial somado ao elevado nível dos juros acaba por afetar de forma negativa as decisões de investimentos das empresas voltadas ao mercado externo e daquelas que concorrem com produtos importados. A queda do investimento nesses setores acaba por ter um efeito cascata nas demais atividades da economia paranaense comprometendo a sua diversificação e expansão. Adicionalmente, pelo fato dos segmentos intensivos em trabalho estarem entre os mais afetados, o nível de emprego também acaba sofrendo impactos negativos, sendo essa variável de vital importância para o bem estar da população em geral.
Luciano Nakabashi (luciano.nakabashi@ufpr.br) e Marcio José Vargas da Cruz (marciocruz@ufpr.br) são professores do Departamento de Economia da UFPR.