Uma pesquisa realizada na Grã-Bretanha apontou o cansaço frequente como o maior sintoma do estilo de vida da mulher moderna. O estudo também sugeriu que as mulheres entre 30 e 40 anos estão atravessando a “pior década de suas vidas.” Seria cômico se não fosse trágico. Quem, sendo mulher, nunca pensou “mas por que raios foram queimar sutiãs em praça pública?” Sim, em algum momento da vida você pensou, ou vai pensar.
Brincadeiras à parte, claro que houve avanço. O “nascimento social da mulher” trouxe benefícios que nem preciso aqui dizer. Toda a história de liberdade sexual, a diminuição das desigualdades e do preconceito, fez com que a mulher não se sentisse tão reprimida. Fez com que ela tomasse as rédeas de sua própria vida, coisa que séculos atrás era impensável.
Acontece que estamos cansadas. Cansadas demais até para reclamar. Cansadas porque é segunda e há uma lista de coisas pra se fazer até chegar à semana que vem. Cansada porque são 6 horas da manhã e o corpo não obedece, mas nos levantamos, lavamos o rosto como quem se benze, engolimos uma xícara de café, vestimos os filhos, os beijamos na testa, desejamos boa aula e atravessamos ônibus lotados, metrôs, trens, trânsito, rodamos chaves em portas e vamos trabalhar. Sorriso no rosto, um batom vermelho e às vezes um salto alto para não perder a ternura.
A mulher moderna pilota avião, mas ainda ouve frases dignas de filmes pornôs na rua
Voltamos pra casa: atravessamos novamente ônibus lotados, metrôs, trens, trânsito. Segundo round: jantar, banho nos filhos, a casa, os cachorros, a máquina de lavar que parou de funcionar. Toda mulher que se preze já pensou em sair correndo, não sejamos hipócritas. Toda mulher se olha no espelho de vez em quando e não se reconhece. E, enquanto nos perdemos entre fraldas e computadores, entre contas e alvejantes, o mundo fica ali, com grandes olhos arregalados, anotando tudo no caderninho (corpo, tic; bem-sucedida, tic; boa mãe, tic; boa esposa, tic; boa dona de casa, tic).
A mulher moderna pilota avião, mas ainda ouve frases dignas de filmes pornôs na rua. A mulher moderna faz parte, nas suas mais diferentes formas, de papéis importantes na mola propulsora de uma sociedade antes comandada pelos homens, mas ainda assim ouve piadinhas infames numa mesa de bar.
Estamos cansadas.
Não que o sonho seja o da Cinderela. Não esperamos o cavalo branco. Mas, quem sabe, um tempo para ouvir nossos próprios pensamentos? Quem sabe um convite para jantar, um vestido novo, um “descanse, tome um suco, vá se deitar”. Quem sabe um banho quente, seguido de silêncio. Quem dera.
A mulher de hoje tem tantos afazeres que deixaria qualquer bisavó de cabelos em pé. Podemos de repente escolher um papel, dentre tantos, e nos permitir ser boa em um só? Não, não podemos. Estamos sempre tendo a sensação de que não daremos conta, que um dia tudo vai entrar em colapso.
No fundo, queremos mais tempo para cuidar de nós mesmas. Dos nossos filhos. Queremos comer uma caixa de chocolate inteira sem nos sentirmos culpadas, sem nos sentirmos um fracasso só porque a sociedade e a mídia exigem que sejamos magras, que tenhamos as unhas feitas, que tenhamos um cabelo de comercial de xampu. E tudo isso em cima de um salto 10.
Queremos o meio termo, talvez uma mistura de Amélia com Leila Diniz. Talvez uma mistura de Julieta com Lady Gaga.
E tudo isso sem sermos chatas.
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