Transferência de renda para a população

A ciência econômica possui escolas com as mais variadas definições do que é inflação e deflação. De modo geral, a população e boa parte dos economistas entendem inflação como aumento geral do índice de preços. Essa definição não ajuda a entender o que cria inflação de verdade, mas apenas sua consequência, que é o aumento do custo de vida. Os preços de um mercado estão vinculados a uma moeda. Somente essa moeda tem a força de interferir na generalidade de preços, sendo raríssimos os casos em que a escassez e utilidade de outro produto qualquer conseguirão interferir no mercado de maneira global. Podemos dizer, então, que a inflação é um fenômeno monetário.

Uma moeda é um bem econômico por ser escasso. Quanto mais escassa a moeda, mais tende a se valorizar. Quanto menos escassa e mais comum, mais desvalorizada ela é. Governos costumam desvalorizar moedas expandindo a base monetária, ou seja, criando dinheiro do nada, com duas finalidades: usar esse dinheiro novo para pagar contas públicas; e aumentar a oferta de crédito no sistema bancário para consumo popular.

Leia a opinião completa de Bernardo Santoro, professor da Uerj e da UFRJ, mestre em Direito, e mestrando em Economia e diretor-executivo do Instituto Liberal.

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Taxas de juros vêm caindo em vários países, refletindo o risco global de deflação que, ao contrário da inflação, se caracteriza por queda generalizada nos preços. Após a crise financeira de 2008/2009, diversos países vêm enfrentando persistentes níveis baixos de inflação. Recentemente esses níveis têm sido cada vez menores, trazendo o risco de deflação para muitos países. O risco de manutenção de inflação muito baixa e deflação atinge o mundo inteiro, incluindo EUA, Europa, China, Austrália, Canadá e Coreia do Sul.

Depois de a inflação atingir 0,5% em maio, o Banco Central Europeu (BCE) finalmente decidiu alterar a política monetária com medidas que entraram em vigor no dia 11 de junho. Dentre as medidas tomadas, tem-se que a taxa de juros foi cortada de 0,25% para 0,15%, o juro de remuneração dos depósitos dos bancos nos cofres do BCE passou de 0% para -0,1% (o que fez do BCE o primeiro dos principais bancos centrais da história a cobrar taxa negativa), e a taxa para financiamento de emergência desceu de 0,75% para 0,4%. Com tais medidas, o BCE tenta ajudar as pequenas e médias empresas com empréstimos baratos de longo prazo para bancos que apoiam essas empresas, além de tentar aumentar liquidez, ampliando o período o qual os bancos podem tomar empréstimos do BCE.

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Mas inflação próxima de zero ou negativa não deveria ser motivo de comemoração? Não necessariamente, pois um pouco de inflação acaba sendo saudável para a economia. Mas o BCE busca reduzir a todo custo o risco de deflação, devido à sua ameaça sistêmica de elevar as dívidas acumuladas, pois estas ficam maiores (em valores reais), e mais difíceis de ser honradas pelo governo, bancos, empresas e consumidores. Além disso, o consumo e a oferta se reduzem, a economia não cresce (podendo, inclusive, encolher), a moeda se valoriza e o desemprego aumenta. No caso da UE, o desemprego, que já está bastante elevado, poderia aumentar ainda mais em caso de deflação.

Como tudo em excesso é prejudicial, tanto a hiperinflação como a deflação, em forma do que chamamos de "espiral", devem ser evitados, já que a persistência acaba sendo a principal característica de ambas, o que é de difícil solução. A deflação é mais perversa, já que pode estar associada a uma armadilha de liquidez (com baixa taxa de juros e de poupança), em que os consumidores postergam o consumo na expectativa de que os preços dos bens e serviços fiquem ainda mais baratos; as empresas não conseguem vender o que produzem, demitem funcionários para reduzir a produção, reduzindo o crescimento econômico, o que alimenta uma "espiral" de declínio econômico de difícil solução. A deflação só poderia trazer crescimento se fosse causada por forte progresso tecnológico, como nos EUA no século 19.

O risco de deflação generalizada no mundo de hoje é ainda maior que o da deflação de um país específico, pois, pela desvalorização cambial, um país teria como "exportar" a deflação para outros países, como fez o Japão recentemente, com desvalorizações do iene, após lidar por duas décadas com deflação. Mas, no caso de uma generalização desse fenômeno, o instrumento cambial teria limitações que impediriam a eliminação definitiva do problema.

Em suma, com a crise mundial recente, muitos países desenvolvidos estão enfrentando um "cão que não late", o risco de deflação, e que parece que veio para ficar.

Mauricio Vaz Lobo Bittencourt, pós-doutorando na Ohio State University (EUA) e líder do grupo de pesquisa Núcleo de Economia Internacional e Desenvolvimento Econômico (Neide/UFPR) do CNPq, é professor do programa de pós-graduação em Desenvolvimento Econômico da UFPR.

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