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A maior preocupação dos pais responsáveis para com seus filhos adolescentes é saber na companhia de quem eles andam convivendo. Quais tipos de pessoas fazem parte do círculo de amigos que cerca o jovem ainda em formação. Quais os hábitos e nível moral dos membros do grupo que convive com ele. Essas preocupações são justificáveis, pois convém não esquecer o ditado popular: "Diga-me com quem andas e te direi quem és!"

Pois bem, tal como fazem os adolescentes, o Presidente candidato Luiz Inácio Lula da Silva continua insistindo que não representa o menor problema para ele, o padrão moral e ético dos companheiros que o cercam, principalmente porque, segundo ele, nunca soube de nada. Afinal, trata-se de companheiros, mas quando estouram os escândalos, oficialmente logo se afasta deles, ou melhor, os afasta do círculo oficial de colaboradores.

Não é de se estranhar esse tipo de postura por parte desse Presidente obstinado por ocupar o poder, a ponto de ser o primeiro brasileiro a participar de 5 eleições presidenciais. Lula sempre demonstrou que gosta de viajar, mas adora mesmo é fazer política em tempo integral. De outro modo, apesar de ser chefe do Poder Executivo encarregado da administração do país, para os atos rotineiros de gestão da máquina estatal (ou seja: governar integralmente), ele não demonstra a mesma apetência. E, muito menos, para tomar cuidado com os companheiros que escolhe para os inchados 32 Ministérios e outros milhares de cargos que estão loteados para seu partido e aliados. Note-se que, mesmo quando afasta algum deles por envolvimento num desses escândalos que já se tornaram comuns, supostamente deixa de prestar atenção à maneira como se comporta o novo ocupante do cargo. Esse tipo de conduta, ao que se percebe, vale também para aqueles que fazem parte do núcleo dirigente de seu partido e membros de seu comitê de campanha à reeleição. E isso talvez até possa ser considerado natural, pois viajar e fazer política o absorve.

Acreditar na versão do Presidente faz parte dessa utopia de que ele é inocente até condenação transitada em julgado. E mais, em tese, pode-se argumentar que talvez não seja tanta essa culpa atribuída a ele pela falta de conhecimento das ações de seus parceiros mais diretos, quiçá porque, um Presidente não pode pensar em tudo e deve ser protegido, inclusive de suas próprias limitações. Nesse contexto, então, se nesse caso do dossiê dos sanguessugas, mais uma vez Lula foi vítima por não saber de nada e ter sido novamente traído pelos companheiros, a quem deve ser atribuída à culpa? Quem deve ser punido pelo fato de um presidente acabar surpreendido por ignorar fatos tão graves envolvendo seus auxiliares muito próximos? Não importando quem seja o presidente, por evidente, para a própria preservação institucional do Estado, aquele que no sistema presidencialista é chefe de Estado e chefe de governo, não pode manter-se tão desinformado.

Assim, no caso dos auxiliares flagrados com quase 2 milhões de reais de origem duvidosa, ao aceitar-se a versão de Lula, a culpa só pode recair na incompetência dos encarregados pela segurança do Presidente e na Abin (Agência Brasileira de Inteligência). O pessoal da segurança presidencial porque deveria ter verificado e afastado da intimidade dele, gente de moralidade suspeita, mesmo quando fosse apenas para participar de um churrasco. A Abin, por não ser capaz de descobrir e informar de práticas delituosas que, rotineiramente, a imprensa já sabia. São funcionários públicos e é normal que, conforme o previsto no art. 37 da Constituição Federal, tenham que responder pela falta de cumprimento ao dever de eficiência em suas funções (lembre-se quanto os chefes da CIA e do FBI necessitaram se explicar formalmente por não terem informado o presidente dos EUA, com referência aos indícios de que o atentado de 11 de setembro iria acontecer).

Em um Estado minimamente organizado, até pela estrutura institucional, obrigatoriamente o Presidente deve ser a pessoa mais bem informada do país quando se trata de fatos relevantes para a nação. Se diante de acontecimentos tão graves, este que é o chefe do Poder Executivo merecer ser absolvido por ser sempre um dos últimos a saber, ou alguém desses órgãos de segurança e informação precisa ser punido, ou então, deve começar a investigar o próprio Presidente (informando as autoridades dos demais poderes que possuem competência e atribuição para fiscalizá-lo e processá-lo); afinal, são funcionários do Estado e não daquele que é o governante de plantão.

Oscar Ivan Prux é advogado, economista, professor, especialista em teoria econômica, mestre e doutor em direito.

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