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Não há como negar o sacrifício que es­­­tá sendo imposto às empresas e às populações de média e baixa renda de­­vido à elevada carga tributária

Nos 33 anos que precederam o Plano Real (do início de 1961 ao término de 1993), houve um verdadeiro massacre social consentido: inflação de 45.211.670.026.000%. Um numeral cósmico que somos forçados a descrever: 45 trilhões e tantos por cento! Se, nesse ínterim, conquistamos a taça Jules Rimet, no quesito inflação também levamos uma taça – porém, uma taça de chumbo – a de campeões mundiais. Desta maneira, a inflação foi responsável por grandes mazelas sociais, pois os pobres, não tendo conta em banco, não poderiam usufruir dos benefícios da correção monetária. A esses, insidiosa e iníqua foi a perda do poder aquisitivo dos salários.

Essa consensual tese é corroborada por um estudo recente da Fundação Getulio Vargas: a desigualdade social veio num crescendo nas décadas de 1960, 1970, 1980 e atingiu o seu clímax em 1993, incidindo com a espiral inflacionária no período. Em contraponto, houve uma expressiva queda na desigualdade no final da década de 1990, quando a renda dos 10% mais pobres cresceu cinco vezes mais que a dos 10% mais ricos. No entanto, nada a comemorar, pois a população mais carente retorna ao poder aquisitivo de 1960.

Na história recente, três presidentes marcaram a sua gestão pelo combate à inflação: Castello Branco (de 1964-1967), Fernando Henrique (de 1995-2002) e Lula (2003-2010). Com prevalência na ortodoxia monetária, Octávio Bulhões, Roberto Campos, Pedro Malan, Antônio Palocci, Guido Mantega, Henrique Meirelles merecem um lugar de destaque no panteão da pátria. Envoltos por políticos em sua maioria míopes e reivindicadores, foram alvos da incompreensão, isolamento e agressões. Com determinação e equilíbrio, conduziram as metas fiscais por trilhas pedregosas para fazer frente aos fortes solavancos da ilógica economia brasileira.

Fernando Henrique Cardoso, que ocupou a Pasta antes da Presidência, se faz oportuno: "Políticos e empresários pensam que o Ministério da Fazenda é um pátio dos milagres. Enganam-se: é um vale de lágrimas. Eles entram chorando, mas eu choro mais do que eles". Mais hilária é a tirada do professor Gama e Silva: "No fim do dia, um ministro da Fazenda precisa de uma dose de um bom uísque e de um adulador contumaz ao lado".

Pândegas à parte, na macroeconomia são indispensáveis resultados positivos quando se almeja justiça social e desenvolvimento sustentável de médio e longo prazo. Em contrapartida, não há como negar o sacrifício que está sendo imposto às empresas e às populações de média e baixa renda devido à elevada carga tributária. Nos últimos 22 anos, foram editadas 46 normas tributárias por dia útil. Em decorrência aumenta o custo Brasil: 2.600 horas por ano é o tempo que aqui despende uma empresa para pagamento dos impostos, taxas e contribuições, muito além dos demais países dos Brics: Índia (258 horas), Rússia (320 horas) e China (389 horas). E custo Brasil é lenha na fogueira da inflação.

As ventas do dragão estão chispando fagulhas, com o incremento nos índices do IPCA: 4,35% em 2009; 5,90% em 2010; nos dois primeiros meses de 2011 preocupadamente atingiu 1,63% e nessa toada chegaríamos ao final do ano em 8,29%. É uma carreta num declive, é preciso conter antes da banguela.

Há políticos, e até empresários, que advogam um pequeno aumento da inflação para que haja um maior viço nas atividades econômicas. É um grande risco para uma economia com memória inflacionária e forte tendência a recaídas. Uma analogia etílica é pertinente: após um período de abstinência, permita a um ex-alcoólatra algumas pequenas doses. Ninguém segura mais!

Os nossos sacrossantos fundamentos econômicos estão passando por mais um teste. Prova de fogo foi a implantação do Plano Real em julho de 1994, e em 1993 sobrevivemos a um tsunami: IPCA de 2.477%. Já se disse que a História é uma juíza imparcial. Porém tem o péssimo hábito de andar tão devagar que raramente alcança em vida os devotados estadistas.

Jacir J. Venturi, diretor de escola, é vice-presidente do Sinepe/PR.

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