Entende-se que o conflito árabe-israelense é um conflito da rejeição do mundo árabe à existência de Israel. No entanto, existem vertentes desse conflito, como a animosidade entre palestinos israelenses, que hoje em dia é territorial, nacionalista e, por parte do Hamas, religioso. Há ainda fricções não resolvidas com a Síria e Líbano, dois países com os quais Israel já travou guerras. No caso do Líbano, a situação é mais complexa, pois o conflito não é contra o Estado, e sim contra o grupo terrorista religioso Hezbollah, o que muda a simetria do conflito. O Hezbollah é financiado pelo Irã, que, apesar de muitos desconhecerem, é um país persa, não árabe. São duas etnias distintas, e muitas vezes rivais.
É importante entender que os acordos de paz entre Israel e os Emirados Árabes Unidos não tiveram uma concessão israelense. Apesar de Israel ter aceitado não declarar soberania em regiões do Vale do Jordão, isso pode ser interpretado como uma concessão de Israel sobre algo que não possuía oficialmente, abrindo mão de algo que ainda não existia. Em outras palavras, o paradigma que sempre existiu foi: quando Israel resolver o conflito palestino-israelense, o conflito árabe-israelense se resolverá. Claro, o conflito árabe-israelense não é mais belicoso desde 1973, quando Israel venceu a Guerra do Yom Kippur. Porém, a rejeição ao país ainda existia. O que vemos com os últimos acontecimentos é que a equação mudou. Assinada a paz com os Emirados Árabes, turismo de ambos os lados, cantores israelenses sendo já convidados para fazerem show em hebraico em Dubai, investimentos já sendo planejados, o que se vê não é apenas uma paz fria entre dois países como Israel e Jordânia. É o início do que, ao que tudo indica, será uma paz quente.
Além disso, agora pode surgir um novo paradigma: o fim do conflito árabe-israelense, com outros países árabes, conforme amplamente divulgado pela mídia internacional, chegando a resoluções de paz com Israel. Isso significa que a condição de solucionar o conflito palestino-israelense para resolver o árabe-israelense não existirá mais. E pode ocorrer o contrário. Depois que vários países árabes reconhecerem Israel – e tudo indica que há vários países nesta lista, como Marrocos, Sudão, Bahrein, Omã e Arábia Saudita –, o conflito árabe-israelense, portanto, chegaria ao fim oficialmente, e então restariam apenas o conflito palestino-israelense e os casos pontuais de Síria e Líbano, pelos motivos particulares de cada um.
Em relação ao Hamas, Al Qaeda, Hezbollah, Jihad Islâmica e outros grupos radicais, não se trata de um conflito árabe ou palestino, mas sim de um conflito religioso. Chamamos esse conflito de “guerra contra os movimentos militantes islâmicos radicais”.
Portanto, ao relembrarmos tantas narrativas, retóricas e ações envolvendo os países árabes e Israel, como em 1947, na Assembleia Geral da ONU, quando os árabes rejeitaram a Resolução da Partilha da Palestina; ou em 1967, quando houve os três “nãos” dos Estados árabes em resposta à Resolução 242 do Conselho de Segurança, que visava encerrar o conflito e o reconhecimento de fronteiras; ou, ainda, durante o envolvimento de nove países árabes na Guerra do Yom Kippur, em 1973, vemos que houve uma mudança substancial. Se compararmos todos esses acontecimentos com o momento que estamos vivendo, podemos concluir que, oficialmente, o conflito árabe-israelense está claramente chegando ao fim.
André Lajst é cientista político, doutorando em Ciências Políticas e Sociais pela Universidade de Córdoba e diretor-executivo da StandWithUS Brasil.
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