O ano de 2022 começou e, a essa altura do campeonato, poucos ousariam discordar de que os dois últimos anos foram cruéis para o mundo todo. Além da pandemia, que parece se arrastar por mais tempo que o inicialmente esperado, não faltaram controvérsias políticas, desequilíbrios econômicos e ameaças reais de guerra.
No cenário brasileiro a sensação de instabilidade se agrava devido ao clima de polarização política, que, apesar de não ser algo mau em si mesmo, ainda é um fenômeno estranho ao brasileiro, que ao longo do século 20 atravessou períodos autoritários e, no início do século 21, experimentou a ascensão de um governo trabalhista, que esteve à frente do Executivo nacional por quase 14 anos, com virtualmente nenhuma oposição relevante.
A não consolidação do país como uma potência econômica, a consequente estagnação social e os sucessivos escândalos de corrupção acabaram por auxiliar o processo de formação de uma oposição política mais à direita, inicialmente formada pela coalizão entre conservadores, centristas e liberais. O resultado mais evidente dessa coalizão foi a eleição do presidente Jair Bolsonaro, que inicialmente formou sua equipe com militares, liberais, agentes do setor privado e políticos.
Vários avanços foram registrados durante a administração Bolsonaro, mas é preciso reconhecer que sobraram momentos de crise institucional, sejam eles provocados pelo próprio Planalto ou por outros poderes constituídos, os quais parecem ainda não compreender que parte da população brasileira já não subscreve alguns dos valores e opções políticas delineados na Constituição de 1988.
Esse ambiente – criado pela ascensão de novos movimentos políticos e pelas sucessivas crises institucionais, e agravado pelo flagelo da pandemia – acabou colaborando para o surgimento de uma massa de pessoas desanimadas com a política e descrentes da institucionalidade, ao mesmo tempo que no polo oposto possibilitou o surgimento de grupos em diversos espetros políticos que parecem encarar a política da mesma forma que encaram uma partida de futebol, isto é, com muita paixão, pouca racionalidade e muito bairrismo.
De modo geral, o liberalismo clássico sempre se posicionou pela defesa intransigente de certos princípios, fundamentalmente daqueles relacionados à dignidade humana, à liberdade e à propriedade.
No entanto, apesar dessa defesa, a vasta maioria dos liberais sempre apregoou o debate republicano de ideias, inclusive com as correntes políticas que não têm por escopo a defesa desses mesmos ideais.
Em 2022, o país retornará novamente às urnas, para eleições gerais, por meio das quais serão escolhidos o presidente da República, os governadores, os senadores e os deputados federais, estaduais e distritais. Nesse ano, o compromisso e o trabalho de todo liberal devem ser orientados para que haja a diminuição do acirramento dos ânimos na esfera pública, a propagação de informações úteis e verdadeiras sobre o processo político e a defesa dos ideais que possibilitem a existência de uma sociedade livre. Em resumo, em 2022 recai sobre os liberais o dever de abandonar uma visão romântica da política e trabalhar para a manutenção de uma democracia saudável.
Allan Augusto Gallo Antonio, formado em Direito e mestre em Economia e Mercados, é analista do Centro Mackenzie de Liberdade Econômica.
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