O psicólogo e cientista canadense Steven Pinker defende que a sociedade deve se preocupar com a pobreza e não com a desigualdade. O que importa é quanto das pessoas na camada de baixo estão bem, e não quantas vezes melhor estão as de cima. A não ser que se parta do pressuposto de que a riqueza é fixa e limitada, e que o fato de alguns terem mais necessariamente leva outros a terem menos. O que não é verdadeiro, uma vez que o bolo da riqueza vem crescendo.
As discussões populistas sugerem que uma melhora no padrão de vida dos mais pobres passa por reduzir a riqueza dos que têm mais, invocando medidas como aumentos e criação de tributos sobre renda, doações, heranças e dividendos. Essas são medidas que geram resultados fáceis no curto prazo, mas desestimulam a geração de poupança e investimentos privados e afetam a capacidade de geração de riquezas. O princípio “Robin Hood” dificilmente levará a um crescimento consistente e duradouro do nível de bem-estar das pessoas mais pobres, até porque o Estado é ineficiente na gestão dos recursos arrecadados.
O caminho mais eficaz para distribuir renda é a criação de empregos qualificados
O caminho mais eficaz para distribuir renda é a criação de empregos qualificados. Então provavelmente a discussão mais pertinente seja em torno de estímulos para que os detentores de poupança apliquem seus recursos de modo a maximizar a geração de riqueza para a sociedade, somada à implementação de políticas públicas mais eficientes.
O estudo Emprego e crescimento: a agenda da produtividade, publicado pelo Banco Mundial, alerta que, se o Brasil quiser gerar crescimento econômico sustentável e inclusivo, reduzir pobreza e melhorar o padrão de vida das pessoas, deve necessariamente encarar a agenda de reformas. Melhorar a produtividade para aumentar a competitividade é essencial para viabilizar uma economia que necessariamente deverá ser mais aberta, mais integrada ao comércio internacional. O banco aponta para a complexidade da estrutura tributária, o forte aumento da carga de impostos que houve no país, o encolhimento dos investimentos, comprometendo a infraestrutura e a qualidade dos serviços públicos, a ineficiência do mercado financeiro, a má alocação de recursos e a perda de dinamismo da economia. Para compensar os elevados custos de produzir no país, o Governo cria mecanismos de proteção e compensação que não funcionam. O estudo sugere abrir o mercado, reduzir o Custo Brasil e aumentar a eficiência dos gastos públicos.
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Como coloca Roberto Castello Branco, diretor da FGV Crescimento & Desenvolvimento, a sociedade e os políticos brasileiros não “podem se deixar levar pela pregação populista de que ajuste fiscal e reformas estruturais prejudicam os mais pobres e/ou ‘desnacionalizam’ a economia. Pelo contrário, elas beneficiam os mais pobres e fortalecem a economia brasileira”.
“Bem-estar” é um conceito absoluto e não relativo. O crescimento de uns não depende do encolhimento de outros. Mais consistente é discutirmos como fazer todos crescerem juntos, não necessariamente em velocidades iguais, mas com oportunidades mais equilibradas, sem fugir dos preceitos dos regimes econômicos ocidentais que têm permitido uma melhor evolução das sociedades. Como afirma Pinker, “apesar de toda a obsessão com desigualdade ao longo da última década, ela não é uma dimensão fundamental do bem-estar humano”.