O ser humano vive em cooperação e competição; ao mesmo tempo, ele dá e toma, ama e odeia, protege e mata
Do ponto de vista epistemológico, a economia pode ser dividida em três dimensões: a "filosofia econômica", que estuda as ideias, os conceitos e os princípios que regem a ação do homem e da sociedade, além das leis e das restrições impostas pela natureza; a "teoria econômica", que explica como os sistemas econômicos funcionam; e a "política econômica", que é a intervenção no funcionamento do mercado e nas decisões dos agentes sociais.
Epistemologia é a "teoria do conhecimento", o saber científico que, em um sistema cognitivo lógico e testado, explica a natureza, o homem, a sociedade e as instituições. Para que atos individuais e os atos coletivos, sobretudo aqueles praticados pelo Estado, sejam eficientes, os líderes e dirigentes devem conhecer e levar em conta o comportamento das pessoas, das empresas e do governo. Quando o governo institui uma política pública, como o seguro-desemprego ou o bolsa-família, o êxito depende de considerar a ética, as crenças e os hábitos dos agentes envolvidos, principalmente os assistentes e os assistidos.
Se todas as pessoas fossem boas, honestas e esforçadas, não seria necessário gastar bilhões com gigantescos sistemas de distribuição, fiscalização, controle, policiamento, investigação, auditorias, processos e punições. O imenso custo dos programas deriva de imperfeições técnicas e dos vícios morais dos assistentes e dos assistidos. Em uma empresa não é diferente. Se patrões, empregados, fornecedores e clientes fossem virtuosos, bons e justos, não seria necessário aplicar montanhas de dinheiro com muros, grades, portarias, câmeras, computadores, seguranças, fiscais etc.
O problema é que o homem, em sociedade, revela toda sua crueldade, sua pequenez e sua miséria moral. O ser humano vive em cooperação e competição; ao mesmo tempo, ele dá e toma, ama e odeia, protege e mata. Certo dia, caiu-me nas mãos um livro intitulado Eu Odeio Ver um Gerente Chorar. O autor dizia que se você pensa que as organizações empresariais e governamentais são um ambiente de virtude e de bondade, você não passa de um tolo, pois, em verdade, sua sobrevivência em qualquer agrupamento humano depende de saber lidar com a mentira, a falsidade, a traição e os golpes baixos.
Em outro texto, o autor afirmava: "Em qualquer tempo e em qualquer lugar, o povo será sempre roubado exatamente por aqueles que dizem dar a vida para salvá-lo: os políticos", ressalvadas as honrosas exceções de praxe. Esse autor afirmava que toda política pública tende a gastar o dobro do dinheiro para prestar metade dos serviços, pois sempre "haverá ineficiência e corrupção e, se a Justiça funcionar, as prisões crescerão mais que as casas de família".
O Banco Mundial produziu um relatório no qual afirma que a miséria na África vem de uma total ineficiência técnica na operação de programas sociais e de um grau de corrupção devastador e alarmante. Isso me lembra um grande país latino-americano, com o superfaturamento de ambulâncias, fraudes em postos de saúde, desvio do dinheiro enviado para socorrer vítimas de enchentes, superfaturamento de caixões de defuntos, diários secretos, funcionários fantasmas e milhares de casos de falcatruas.
Estima-se que pode chegar a um quinto do produto mundial a montanha de dinheiro gasta em programas de segurança pública, segurança nas empresas, guerras, prisões, armas, e equipamentos de matar. Em 2005, um relatório do Departamento de Justiça dos Estados Unidos informava que 2% dos habitantes do país estavam encarcerados, em prisões temporárias ou cumprindo pena. Isso dava um total de 6,1 milhões de pessoas atrás das grades. Basta imaginar o custo disso tudo em termos de investimentos em presídios, equipamentos, pessoal e manutenção da população carcerária. Sem contar o "custo de oportunidade", ou seja, o prejuízo pelo fato de essas pessoas não estarem na lavoura, nas fábricas, nas escolas, nos hospitais ou em outro trabalho útil.
As obras de investimentos públicos dos municípios, estados e União andam na casa dos R$ 60 bilhões por ano. A revista Veja da última semana de outubro de 2011 publicou extensa reportagem mostrando que, somente nos ralos da corrupção, o Brasil perde R$ 85 bilhões. O custo econômico da maldade humana é gigantesco e consome grande parcela do trabalho e do esforço da sociedade apenas para que uns se defendam dos outros.
Apesar de a maldade ser trágica e causa de pobreza, não devemos permitir que ela nos roube a alegria de viver.
José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.
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