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Os povos vencedores serão aqueles incluídos na sociedade do conhecimento.

Conforme relatório da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), divulgado em dezembro último, o comércio de produtos culturais na América Latina e no Caribe, em especial livros e CDs, representava 2% do mundial em 1994. Em 2003, subiu apenas um ponto percentual. No tocante à produção ligada ao setor, os dados também indicam sensível defasagem internacional: Reino Unido, Estados Unidos e China, segundo o estudo, responderam, em 2002, por 40% da produção global, contra apenas 4% dos continentes latino-americano e africano.

O trabalho demonstra, ainda, que, entre 1994 e 2002, o mercado internacional da cultura cresceu cerca de 60%, índice, convenhamos, bastante significativo. Trata-se, assim, de excepcional segmento gerador de empregos e renda, além de muito importante para o desenvolvimento socioeconômico e a democratização das oportunidades. Afinal, há consenso de que os povos vencedores da presente era serão aqueles incluídos na chamada sociedade do conhecimento.

O relatório da Unesco analisa a questão com muita propriedade, observando que "a globalização oferece grande potencial aos países para o fomento de sua cultura e a descoberta e estímulo aos talentos". Está claro, entretanto, que "nem todas as nações têm aproveitado as vantagens abertas por estas oportunidades". E é lamentável constatar – embora tal citação específica não conste do relatório – que o Brasil inclui-se entre os países nos quais a produção cultural pouco tem-se desenvolvido. Tal constatação pode ser facilmente referendada pela indústria gráfica, um dos principais elos da cadeia produtiva da comunicação e da indústria cultural. Um recorte desta incômoda realidade está expresso em recente pesquisa da Abigraf (Associação Brasileira da Indústria Gráfica) sobre o mercado de impressão de livros. Este trabalho demonstra que, nos últimos quatro anos, a receita da indústria gráfica brasileira nesse segmento teve desempenho pouco satisfatório. O faturamento permaneceu praticamente inalterado. Segundo o estudo, são impressos 238 milhões de exemplares/ano. Para o futuro imediato, os empresários gráficos entrevistados mostram-se bastante cautelosos. Numa perspectiva de cinco anos, metade espera que o mercado cresça à média anual de 6,2%. Os demais demonstram menos otimismo. E, atenção: a crença na possibilidade de aumento dos volumes de impressão não advém da expectativa de melhoria do poder aquisitivo dos brasileiros, mas está ligada principalmente às perspectivas abertas pela ampliação ao Ensino Médio do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), de acordo com o cronograma estabelecido pelo governo.

Os dados da Unesco e a pesquisa da Abigraf não deixam dúvidas de que um dos principais desafios do Brasil é ampliar o acesso da população à informação, ao conhecimento e à cultura, por meio dos livros, de todas as mídias impressas e também das eletrônicas, inclusive a internet. O novo ano começa sob o estigma da crise política desencadeada pelas denúncias de corrupção em 2005. O debate sobre o tema será ainda mais exacerbado em 2006, devido às eleições à Presidência da República, governos estaduais, Senado, Câmara dos Deputados e Assembléias Legislativas.

Considerando as premissas históricas do Brasil, cabe um alerta sobre essa questão: as campanhas eleitorais costumam mitigar a realidade, empanando-a com a retórica. Assim, é imprescindível, em 2006, que a sociedade e os setores produtivos mantenham-se mobilizados em torno das metas da prosperidade, geração de empregos e também do avanço da produção cultural. Não há dúvida de que a performance deste segmento sempre será um preciso termômetro de nossa capacidade de inserção competitiva na economia mundial, pois a ignorância, mais do que nunca, é sinônimo de subserviência!

Alfried Karl Plöger é presidente da Abigraf Regional São Paulo (Associação Brasileira da Indústria Gráfica) e da Abrasca (Associação Brasileira das Companhias de Capital Aberto).

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