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Não importam as dificuldades ou os desafios, não podemos colocar nossos filhos dentro de uma bolha.
Não importam as dificuldades ou os desafios, não podemos colocar nossos filhos dentro de uma bolha.| Foto: Pixabay

Dois anos de medo, angústia e incerteza. Desde que a pandemia de Covid-19 começou, os dias foram extremamente desafiadores. Acompanhar o aprendizado e as muitas tentativas de manter a educação de crianças e adolescentes, nesse cenário, foi motivo de aflição para muitas famílias. Nossos jovens passaram do ensino presencial para o remoto sem que houvesse tempo hábil para adaptação. Segundo dados do Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância (Unicef), uma entre cada sete crianças e adolescentes de 10 a 19 anos vive atualmente com algum transtorno mental. E um em cada cinco adolescentes e jovens de 15 a 24 anos se sente deprimido ou com pouco interesse em fazer as coisas.

A pressão causada pelo isolamento social teve impacto não apenas na vida escolar, mas também na saúde emocional desses grupos. Os dados são alarmantes e pedem de nós, adultos, um posicionamento ativo, que possa ajudar as nossas crianças e adolescentes a terem o menor prejuízo possível diante desse contexto avassalador.

Incluída na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a educação socioemocional é um eixo que, segundo o documento, deve perpassar todos os âmbitos da escola. Ela é, hoje, uma das ferramentas fundamentais nessa tarefa. Acolher, embalar e permitir que nossos jovens cresçam emocionalmente, mesmo em meio a condições desfavoráveis, é papel de todos nós. Mas como nós, também atingidos pelas consequências dos últimos dois anos, podemos ajudá-los a enfrentar essas adversidades dentro de casa?

Há, no fundo, duas habilidades muito importantes para um amadurecimento saudável no pós-pandemia: o autoconhecimento e a empatia. O primeiro precisa ser, antes, exercitado pelos pais. Essa habilidade exige amadurecimento constante porque somos referência para os filhos. Precisamos ajudá-los a reconhecer as próprias emoções e aprender a lidar com cada uma delas. É nosso papel orientá-los a ter um posicionamento ativo quanto às próprias percepções e ao que fazer com elas neste pós-pandemia.

Acolher, embalar e permitir que nossos jovens cresçam emocionalmente, mesmo em meio a condições desfavoráveis, é papel de todos nós.

A segunda habilidade é a empatia. Nossos jovens precisam, mais que nunca, conviver com o outro, com o diferente. Eles precisam aprender a respeitar essas diferenças e ser generosos. A convivência é crucial para praticar esses sentimentos e isso ajuda na saúde emocional.

Na educação dos filhos, a resiliência não é possível quando falamos de pais superprotetores, pois as crianças e adolescentes precisam passar por momentos adversos e de dificuldade para crescer nessa frente. É como se fosse um músculo que precisa ser exercitado. Precisamos oportunizar aos filhos momentos e situações em que possam treinar a resiliência.

Momentos como o de uma pandemia são propícios para esse fortalecimento. É um crescimento adaptar-se a um novo cenário, com aulas em um formato diferente do habitual, com as relações passando a ser majoritariamente virtuais e o formato dos relacionamentos mudando. Esse momento permitiu ampliar a resiliência em quem já a possuía e exigiu força dos que não estavam acostumados a ela.

Não importam as dificuldades ou os desafios, não podemos colocar nossos filhos dentro de uma bolha. De acordo com o pesquisador europeu Kim Cohen, “certa medida de estresse e desarmonia é importante para criar oportunidades para uma proteção eficiente”. Ou seja, durante um conflito, os níveis de estresse aumentam e, quando se normalizam, a criança cria resiliência. No universo micro, particular e familiar, a capacidade de permitir que os pequenos aprendam por si mesmos a enfrentar turbulências é admirável. E, ali em frente, perceberemos que esse momento não fortaleceu apenas nossa resiliência, mas também nossos laços com aqueles que carregam muito de nós. A pandemia nos trouxe novas formas de apoiar uns aos outros, ajudando nossos filhos a conhecerem-se e compreenderem-se mais, a serem mais empáticos e, principalmente, a desenvolverem o “músculo” da resiliência. Ali em frente, teremos pessoas mais humanas e felizes e, por conseguinte, um mundo melhor para todos.

Anderson Leal é consultor pedagógico da Conquista Solução Educacional.

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