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Comemora-se hoje o 68.º aniversário do fim da 2.ª Guerra Mundial na Europa. Para um país como o nosso, onde se cultiva a paz e que não viu em seu território as barbáries vivenciadas por outros povos, é necessário recordar os fatos. A partir do momento em que a historiografia registra novas descobertas, torna-se importante não somente a história oficial descrita pelos vencedores, mas uma abordagem crítica voltada para a consciência histórica e a narrativa dos vencidos.

Em 1939, o mundo assistia, incrédulo e estupefato, à capitulação de muitos países sem luta; territórios foram obtidos e populações dominadas. Uma sucessão de êxitos – a anexação da Áustria, a absorção da Tchecoslováquia, a pressão sobre Danzig e, finalmente, a invasão da Polônia pelos alemães – dava início à hecatombe. O ataque a Pearl Harbor, em 1941, acabou por colocar os Estados Unidos na guerra.

No desenrolar dos acontecimentos, o Brasil sofreu o torpedeamento dos navios mercantes. Como resultado, mais de 900 brasileiros perderam a vida no mar. Como resposta, organizou-se a Força Expedicionária Brasileira (FEB), que embarcou para a Itália com uma divisão de 25 mil soldados e que, nos embates de grandes sacrifícios, constituiu a nossa maior experiência militar na contemporaneidade.

Não eram somente as armas, mas também o ódio em cadeia que levou a humanidade à barbárie, aos campos de concentração e às ações monstruosas de genocídio. Hitler, sentindo-se traído com o armistício firmado entre a Itália e os Aliados em 1943, vê em Mussolini um aliado perdedor; cessam os acordos e a Itália é ocupada pelas tropas nazistas. Pesquisas recentes tentam esclarecer esses aspectos obscuros da história italiana até então ignoradas. O povo é tomado de surpresa pelo armistício comunicado apenas pelo rádio, e não sabe como agir. A corrida dos desabrigados para as grandes cidades engrossa o número de habitantes; faltam abrigos e gêneros de primeira necessidade, não há perspectivas de futuro. O exército italiano foi desmobilizado, soldados encontram as casernas fechadas, os jovens não têm como retornar às suas casas.

Voltaram-se os alemães contra a população, com represálias e selvageria; há de se recordar do massacre ocorrido nas Cavas Ardeatinas, quando foram mortos cerca de 350 romanos, em 1943. Mal a FEB desembarcara em Nápoles, outra tragédia, ocorrida em setembro de 1944 na cidade de Marzabotto, vitimava cerca de 900 pessoas, entre homens, mulheres e crianças, da forma mais selvagem que um ser humano pudesse perpetrar contra o seu próximo. Hoje é necessária uma reconstrução complexa desses acontecimentos. Grande parte dos documentos foi destruída, mas a existência de outras fontes ajudariam a organizar um mosaico explicativo dessa parte da história.

A memória dos soldados tombados e do sofrimento impingido às populações nos encaminha a um difícil aprendizado: não existe apenas um lado da história. A vitória sobre o nazismo tem uma dimensão histórica a ser pensada, pois libertou a Europa e outros continentes do nazifascismo e criou condições para os ideais de libertação nacional, reforçando as posições das forças democráticas e amantes da paz.

Carmen Lúcia Rigoni, doutora em História Cultural, é membro efetivo da Academia de História Militar Terrestre do Brasil (AHIMTB) e do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná (IHGPR).

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