A discussão sobre o papel da dimensão ambiental na análise econômica tem sido marginalizada, reduzindo o poder explicativo dos modelos teóricos frente aos problemas socioambientais no século 21. Um exemplo é a ausência de uma discussão a respeito da relação entre a criação do dinheiro e as crises econômica, social e ambiental. Na abordagem convencional, a criação do dinheiro está apenas na discussão sobre a inflação, porque a economia real não seria afetada pela variação na quantidade de dinheiro.
A criação de dinheiro no atual sistema monetário internacional pode contribuir para as crises econômicas, sociais e ambientais. Quando um país possui déficit em conta corrente, geralmente, este é financiado pelos recursos da conta financeira. Parte desses recursos é alocada no mercado monetário, possibilitando que os bancos aumentem a oferta do crédito para os agentes. Esse fluxo aumenta conforme mais recursos entram no mercado monetário e os agentes estejam em condições de se endividar, aumentando o consumo, investimento e a especulação nos mercados.
Quando os agentes atingem níveis elevados de endividamento, a ponto de atrasarem ou não pagarem os juros devidos, os recursos do mercado monetário são alocados para países onde os agentes possam se endividar e que atendam às condições para a expansão do crédito. Com a redução dos recursos financeiros, os bancos reduzem a oferta de crédito e podem elevar a taxa de juros. A redução do crédito prejudica as empresas que necessitam de capital de giro e as famílias que financiam seu consumo. Essa dinâmica pode desencadear a crise econômica, com sérias consequências sociais e ambientais, como a que o Brasil está vivendo.
O sistema de ensino não está preparando o cidadão para essa nova realidade
Durante a expansão do crédito, dependendo dos setores que obtêm os empréstimos, o resultado pode elevar a pressão sobre recursos ambientais, como a construção de novas termelétricas, o avanço da fronteira agrícola e o desmatamento. Essa pressão serve para atender a uma demanda momentânea, gerada pela expansão do crédito sem nenhuma sustentação na renda. Quando ocorre uma redução no crédito ou o nível de endividamento compromete o orçamento dos agentes, temos a redução do consumo e da produção. Porém, a degradação ambiental é irreversível e a sociedade sofrerá com a perda de importantes recursos ambientais e aumento dos conflitos socioambientais – veja-se o caso da crise hídrica em São Paulo.
Um elemento central dos problemas econômicos socioambientais é a forma como a moeda é criada pelos bancos, que a criam a partir do momento em que seu cliente se endivida. Infelizmente, a sociedade desconhece essa dinâmica e sua interface com as crises, e somente uma minoria sabe responder a questões como: o que é dinheiro? Existem outros tipos de dinheiro que podem ser criados sem a necessidade dos bancos? É possível a comercialização sem a intermediação do dinheiro de um país? Esse desconhecimento se estende aos políticos, economistas, administradores, ambientalistas e empresários, entre outros. Essa situação impede que sejam adotadas medidas mais adequadas para evitar as crises e seus desdobramentos sociais e ambientais.
Parte do problema se deve ao fato de que o sistema de ensino não está preparando o cidadão para essa nova realidade. Nem as universidades discutem esse processo, quanto mais a relação entre a criação do dinheiro e as crises. Neste contexto, a plataforma de ensino Sustainabily School procura preencher essa lacuna, discutindo em linguagem acessível a conexão entre dinheiro e as crises, assim como possíveis soluções. Recentemente, lançou-se o livro Nuevo Dinero para Sostenibilidad, que apresenta uma reflexão sobre este tema.
Se realmente desejamos enfrentar os problemas que afetam nossas vidas e das futuras gerações no século 21, é preciso conhecer mais sobre a relação entre a criação do dinheiro e o desencadeamento das crises, porque sem mudar a forma como o dinheiro é criado estaremos tapando o sol com a peneira.
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