A julgar pelos resultados de uns e de outros, o que diferencia economistas das cartomantes e videntes é que os primeiros ostentam vistosos MBAs e PhDs, enquanto os segundos recorrem diretamente ao sobrenatural

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Estamos, como acontece todos os anos, na época das previsões: Pai Isso, Mãe Aquilo, Mestre Fulano, Cigana Sicrana se esmeram em ler os búzios, as cartas, as palmas das mãos, a borra de café, as entranhas dos animais, para perscrutar o futuro, prever as grandes catástrofes, as mortes dos famosos. Costumo sugerir aos meus amigos que façam o que chamo de teste da cartomante: guardem os jornais, as revistas, as publicações em que essas previsões são publicadas para conferirem no futuro.

Economistas e analistas não ficam atrás nessa ânsia de prever o futuro, mas, a julgar pelos resultados de uns e de outros, o que diferencia economistas das cartomantes e videntes é que os primeiros ostentam vistosos MBAs e PhDs, enquanto os segundos recorrem diretamente ao sobrenatural. Recomendo aos pacientes leitores que também recortem e guardem as entrevistas dos luminares da economia prevendo o que vai acontecer com o PIB, a inflação, a balança comercial, a taxa de desemprego, o volume de investimentos externos, etc.

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Mais prudentemente, a turma do setor financeiro desenvolveu um método mais seguro: o Relatório Focus editado pelo Banco Central e publicado semanalmente. Ora, assim fica fácil fazer previsões de longo prazo, porque a cada sete dias você tem o direito de revisar as previsões diante das novas realidades.

Na verdade, não se trata de incompetência dos que se arriscam a fazer as tais previsões, e sim de fazê-las em um ambiente tão complexo e conturbado quanto o atual. Como prever com exatidão o que ocorre num país como o Brasil, onde 40% da economia estão na informalidade, e quase tanto da força de trabalho não tem carteira assinada? Como fazer previsões minimamente confiáveis em um país em que as taxas de juros variam 20% ou 30% ao longo do mesmo ano? Quem poderia imaginar o acidente de Fukushima, com todas as suas consequências? Ou o agravamento da crise financeira europeia? Ou a demorada recuperação da economia americana?

Apesar de tudo isso, a grande indústria de previsões econômicas continua de vento em popa, e o pior: ela não apenas pretende prever o que vai acontecer (o que em geral faz da maneira mais medíocre possível), como fazer acontecer, pelo simples fato de terem previsto que aquilo ocorreria. E os resultados disso que se chama tecnicamente de wishful thinking o pirandelliano "assim é se lhe parece..." podem e costumam ser simplesmente desastrosos.

Veja-se, o que acontece com as chamadas agências de classificação de risco, as agencias de rating, que existem para analisar a qualidade dos papéis financeiros mundo a fora. Os resultados das previsões das agências no passado são risíveis: pouco antes de a Parmalat quebrar, as principais agências recomendavam entusiasticamente que se investisse nela. O mesmo aconteceu com a Enron, que faliu ruidosamente produzindo bilhões de dólares de prejuízo sem que as agências alertassem os investidores para o risco. Mais de um trilhão de dólares investido no mercado imobiliário americano se transformou em pó sobre as vistas complacentes das agências. Apesar disso, elas mantêm o aplomb e a arrogância como se fossem os verdadeiros representantes da sabedoria universal.

Agora as agências se esmeram em ajudar a agravar a crise financeira mundial, primeiro com o ridículo rebaixamento da dívida americana e agora com o crédito dos principais países europeus. Quando, apesar de seus retumbantes fracassos passados, as agências forem levadas a sério pelos investidores institucionais e provocarem a quebra da Itália, Espanha, Portugal e outros países, promovendo a debacle financeira do mundo todo, que dirão elas? Oops... Sorry about that!

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Belmiro Valverde Jobim Castor, PhD em Administração Pública, é professor do doutorado da PUCPR, com o apoio de Leonardo Castor de Mesquita.