A economia global tem causado um impacto significativo no tipo de pessoa que acessa a educação superior. Alguns estudantes mais maduros precisam se requalificar para aumentar suas opções de empregabilidade; outros procuram o curso perfeito em outros países; alunos da graduação precisam trabalhar em período integral para pagar os estudos. Cada vez mais os estudantes do ensino superior são considerados “não tradicionais”. Com uma forte demanda por cursos flexíveis, informações acessíveis e qualificações internacionais reconhecidas, as universidades sofrem uma grande pressão para se adaptar e se tornarem competitivas.

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O recrutamento e retenção de estudantes é desafiador, principalmente quando a competição vem das diversas opções de ensino. Afinal, os estudantes podem ter uma opinião formada sobre o que querem estudar, quando estarão disponíveis, e onde querem estar enquanto estudam. A velha “universidade dos sonhos” tem sido deixada de lado, pois o número de estudantes que estão dispostos a ir à universidade presencialmente, participar de palestras e entregar trabalhos em mãos vem diminuindo.

Ao ignorar o estudante não tradicional, a universidade enfrenta um risco maior do que ter de lidar com a frustração

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Percebemos essa mudança quando vimos um aumento na demanda por nosso ambiente de aprendizagem colaborativo on-line, com mais instituições de ensino superior começando a usar as soluções. Passamos algum tempo pesquisando esse novo ambiente educacional e, ao analisar os alunos dentro e fora da sala de aula, percebemos que eles estão mais proativos na customização dos estudos e com foco maior em qualificações, a fim de achar o caminho ideal na carreira que escolheram.

Também identificamos que os estudantes estão mais centrados, rigorosos em suas escolhas e com mais expectativas. A tecnologia aparece como a segunda natureza dos estudantes de hoje, que contam com ela para administrar suas vidas; no estudo não pode ser diferente. Se todos os aspectos das suas vidas estão na palma da mão, por meio de um dispositivo móvel, então eles esperam que na educação seja da mesma forma.

Algumas universidades têm feito um esforço apressado para atualizar seus sistemas para entrega de atividades, usando a tecnologia como um “jornal mural”, apenas para transmitir informações, sem permitir que os estudantes conduzam sua jornada acadêmica. Muitos operam com um sistema focado em entrega e suporte, desenhado para atender estudantes tradicionais em um modelo de ensino tradicional. Mas esses estudantes são uma minoria e, certamente, é a hora de mudar.

Ao ignorar o estudante não tradicional, a universidade enfrenta um risco maior do que ter de lidar com a frustração do estudante, pois, sem flexibilidade para participar de atividades como sala de aula invertida, enviar trabalhos on-line ou engajar estudantes e os membros da instituição pela internet, alguns alunos ficam desmotivados por não saberem como encaixar a educação em suas vidas. Como resultado, eles estão abandonando os estudos ou correndo para conquistar seus objetivos na carreira e questionando o real valor da educação.

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A demanda por um ensino centralizado no aluno vem também do aumento do número de estudantes internacionais e da tendência de misturar e combinar cursos entre universidades e, de vez em quando, entre países – o que ajuda o aluno de hoje a alcançar seus objetivos futuros na carreira. Mesmo com a economia brasileira em crise e o dólar em alta, a procura de jovens brasileiros por cursos no exterior aumentou 600% entre janeiro e julho de 2015, se comparado ao mesmo período do ano passado, de acordo com dados divulgados pela Associação Brasileira de Organizações de Viagens Educacionais e Culturais (Belta).

Então, quais são os próximos passos? Algumas universidades estão mudando a forma como desenvolvem seus cursos, ministram palestras e engajam estudantes. Muito disso tem sido feito com suporte da tecnologia. Afinal, o mundo ganhou a primeira universidade sem papel – o Higher Colleges of Technologies, dos Emirados Árabes Unidos – e é apenas uma questão de tempo até que outras sigam a tendência. Mas a tecnologia ainda não assumiu a liderança, embora ela permita que a universidade acompanhe o estudante. Não importa se o aluno tem 51 anos e precisa apenas de novas certificações para se tornar mais relevante no trabalho; ou se tem 44 anos e não consegue pagar por uma formação profissional acessível; ou um estudante de 21 que não consegue articular bem suas habilidades para potenciais empregadores; ou um de 19 que quer conciliar trabalho, estudo e experiência internacional. O estudante tradicional está se tornando uma raridade, e a universidade que reconhecer isso e atender as necessidades dessa nova geração de alunos terá sucesso ao mudar, para o bem, a forma da educação.

Matthew Small é presidente da divisão internacional da Blackboard, empresa de tecnologia para educação.