O confronto político hoje, seja qual for, tem cheiro de suicídio. É prejudicial. Não agrega e estabelece o que os bárbaros chamavam de razzia, ou seja, a destruição pela destruição. Precisamos ter sabedoria para vivermos em um momento tão tenso. Que possamos respirar um ar puro ou como bem escreve Agamben (filósofo italiano contemporâneo) “um meio sem fim”. Existem outras possibilidades qualificadas de agir e de viver. Sim, podemos reinventar novas identidades e subjetividades. Não somos obrigados a seguir o atual comando imperativo que tudo pode e tudo quer. Ora, o poder soberano insiste em dizer o que os sujeitos devem fazer, o que é o bem e o que é o mal. Se submeterem-se a este dispositivo autoritário os sujeitos deixarão de serem sujeitos e passarão simplesmente em acatar as coisas como são dadas. Diferente de aceitar as coisas como estão postas, precisamos ter energia para desativar discursos e práticas que tentam desqualificar o ser humano e sua potencialidade maior, ou seja, a tese do “podemos mais que isto”.
Faz tempo que a maior ambição do ser humano é a materialização da plena autonomia e de uma emancipação que nos faça senhores de nós mesmos.
Precisamos, para sobreviver, gastar energia na criação de um estilo vida incomum
A emancipação que me refiro não precisa ser simplesmente um grande movimento coletivo com objetivos precisos, mas uma série de transformações menores mediante as quais os indivíduos começam a transformar suas próprias vidas e se tornam capazes de fazer coisas que pensavam que não poderiam fazer. O trabalho do justo esclarecimento e da emancipação social e política, no tempo em que escrevo, expressam uma maneira diferente de perceber o mundo em que vivemos no qual se pode garimpar, fazer frestas, fissuras, trincas, abertura de fendas nessa rede aparentemente homogênea. Precisamos, para sobreviver, gastar energia na criação de um estilo vida incomum, não convencional, próprio de espíritos livres com vidas autônomas em relação à lógica dominante. Emprestando expressões Agambenianas, há momentos que precisamos trabalhar a destituição e a inoperosidade. Não estou me reportando tão somente ao Brasil, mas ao fenômeno mundial em curso.
Podem ser espaços de tipo cooperativo de produção, novas formas de ensino, novas maneiras de organizar a vida, novas maneiras de conceber a religião e novos modos de viver nosso ‘eu’.
Leia também: Uma política da esperança (artigo de Bernardo Guadalupe, publicado em 21 de junho de 2018)
Nossas convicções: A dignidade da pessoa humana
A partir da ruptura de todas estas separações, poderemos pensar a reconstituição de uma força política autônoma em relação à política partidarista, eleitoralista, chamada pela maioria dos eleitores brasileiros [na última eleição] de antissistema.
Esta nova forma de vida que estamos defendendo aqui é uma aposta para prorrogarmos a morte do ser humano diante deste poder que está longe da verdadeira política, na esperança resiliente de zelar de nossa imunidade individual até que dias melhores possam vir.