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Ele teria sido eleito para realizar uma "faxina no Vaticano" e "colocar as coisas nos eixos", para usar expressões coloquiais que são tão queridas por ele próprio. Mas o papa Francisco acabou se revelando muito mais.

No primeiro aniversário de sua eleição, que comemoramos na próxima quinta-feira, a coisa mais evidente para qualquer analista é que Bergoglio era "o esperado" – aquele por quem todos anseiam, ainda que não se deem conta até o encontrarem. O homem mais comentado pela mídia internacional em 2013 (eleito personalidade do ano até por uma revista gay), que foi a maior barreira à ação militar dos EUA na Síria, ultrapassou em muito – como fenômeno cultural – os muros de sua própria Igreja.

Num mundo em crise, que carece desesperadamente de líderes políticos e referências éticas, Francisco tornou-se rapidamente o sinal de que "algo novo é possível", não só no campo religioso, mas também no político e econômico. Religiosos e não religiosos se apegaram a ele não apenas como sinal de renovação na Igreja Católica, mas como sinal de uma liderança capaz de amar realmente as pessoas.

Na Bíblia se diz que "o amor é mais forte que a morte", mas toda a racionalidade política ocidental desde Maquiavel foi construída negando esta afirmação. O mundo é regido por vontades e poderes, e tudo o mais é artifício ideológico visando encobrir a dominação.

Mas a própria realidade foi mostrando que a vida, os relacionamentos, até mesmo a política, não podem ser reduzidos a isso. As pessoas sentem que é necessário que exista alguma coisa a mais, é necessário que em algum lugar possa existir amor e esperança, para que a vida possa ser humana, possa ser vivida.

Onde encontrar este amor e esta esperança, onde encontrar este respiro de humanidade nos calabouços do individualismo e dos jogos de poder? O mundo espera sempre pela resposta a esta pergunta, e Francisco tornou-a palpável.

Com seu exemplo, o papa atual vai mostrando que é possível viver numa postura de doação e de amor ao outro. E nos faz perceber o quanto precisamos estar perto de alguém assim, de quanto até mesmo almejamos ser assim para sermos mais felizes.

Sem dúvida a grande novidade de Francisco se deve a sua capacidade de comunicação. Suas palavras não são tão novas assim; representam o melhor de 20 séculos de doutrina católica. Mas com seus gestos conseguiu dar a esta mensagem uma força e uma credibilidade como há muito não se via.

Hoje podemos imaginar que o cardeal Bergoglio causou um impacto semelhante em seus colegas cardeais no conclave em que foi eleito papa. E isso permite entender melhor "o método" que a Igreja (ou a Providência, para os que têm fé) escolheu para esta reforma atual.

Papa Francisco não está mudando a Igreja porque é um grande administrador ou porque tenha demonstrado uma sagacidade política particular. Suas medidas de caráter administrativo estão vindo lentamente e terão impacto, sem dúvida, mas um impacto muito menor que aquele gerado por sua própria pessoa. O caminho da mudança vem com o anúncio renovado do "poder do amor", que se liberta de suas deturpações piegas ou de suas armadilhas individualistas.

"O futuro a Deus pertence", dizemos, mas o papa Francisco já deixou sua marca nos destinos da Igreja e do mundo. A única questão é saber até que ponto seu exemplo encontrará eco no coração das pessoas, tanto dentro quanto fora da Igreja.

Francisco Borba Ribeiro Neto é coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.

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