A Copa do Mundo, impulsionada pela grande influência cultural, nas suas 18 edições, exerce uma fascinação nos cinco continentes. É uma fonte de prazer civilizada, que consolida e fortalece as relações interpessoais. A forte influência política e econômica, aliada à tecnologia avançada da comunicação, solidifica este evento como um espetáculo global.
O explicável
São 32 países em busca de um título de campeão, cujo reinado ocupará longínquos quatro anos. Essa talvez seja a razão do grande sucesso, que coroa essa conquista como encantadora.
O futebol é um esporte coletivo, de origem britânica, que tem 17 regras tradicionais estabelecidas desde 1863. Desde então, ocorreram poucas modificações, o que facilita a prática e o entendimento da modalidade por todos os seus admiradores.
O futebol proporciona esse fascínio justamente porque uma equipe com menor nível técnico é capaz de vencer outra com maior, o que impossibilita a certeza prévia de qualquer resultado. Devemos esse fato aos bons velhinhos da Fifa como chamam alguns cronistas de nossa cidade que conservaram as regras oficiais do futebol e que são as grandes responsáveis pelo friozinho na barriga que sentimos "de que tudo pode acontecer numa partida de futebol"!
O inexplicável
Geração após geração, a bola continua sendo companheira indispensável da criança brasileira, independentemente de classe social. Recordo-me quando minha professora do Primário, há algumas décadas, perguntou o que gostaríamos de ser quando crescer e, sem exceção, todos os meninos responderam: "Jogador de futebol!"
O que nos leva a essa paixão? Por que em todas as Copas do Mundo, nas quais o Brasil se fez presente, sempre temos a pretensão de que o título é nosso? Os historiadores relatam que o brasileiro sempre se considerou o melhor do mundo e que anseiam ardentemente que os jogadores ponham o coração no bico da chuteira quando vestem a amarelinha. Tomando um devido distanciamento, não podemos negar que a cientificidade está presente no futebol e que isto possibilita um equilíbrio de performance de todas as equipes participantes.
O futebol é composto por quatro componentes: o físico, tático, técnico e psicológico e soma-se a esses os meios científicos, que auxiliam para um maior e melhor desempenho das diferentes seleções. São raras as equipes que não investem em todos esses itens, deixando clara a disparidade do futebol quando isso ocorre. Um exemplo ocorreu na seleção, comandada por Felipão em 2002, cuja música "Festa" Ivete Sangalo foi um fator diferencial na motivação dos jogadores na busca do pentacampeonato.
Se todos os países têm um relativo aceso ao meio científico e a treinamentos dos diversos componentes, o que realmente nos diferencia das demais seleções? Termos os melhores jogadores do mundo juntos em um mesmo time, tecnicamente falando? Eu acredito que não é apenas isso. Nosso diferencial está justamente no inexplicável. É a capacidade dos jogadores brasileiros de tomar diferentes atitudes frente às mais diversas situações, é o famoso jeitinho brasileiro, a famosa criatividade e flexibilidade de quem mora neste país e tem que aprender, desde muito cedo, a se adaptar para "sobre-e-viver", e não poderia ser diferente no futebol!
São as tomadas de decisão, utilizando diferentes competências, que levam o Brasil a vir a ser esse grande sucesso no futebol. É só lembrar do passe do Kléber, com a seqüente abertura de pernas do Rivaldo, possibilitando o tempo exato do chute emendado do Ronaldo, inesquecível gol contra a Alemanha! São coisas que não se ensinam, mas se aprendem com a vida! Esse é o nosso diferencial, e espero que Ronaldo, Robinho, Kaká e outros aflorem esses jeitinhos, ainda não mensuráveis e não fabricados nos mais modernos "laboratórios" da ciência do esporte!
Marcelo Pinheiro é professor da disciplina de Futebol da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
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