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Governo e políticos em geral são especialistas notórios em pregar petas, escapar pela tangente das mais descaradas negativas sempre que apertados por perguntas incômodas ou enrolados pelas cobranças de suas promessas.

Vá lá, faz parte do jogo. Mas, há um limite ético que não pode ou não deve ser ultrapassado pela cínica e despudorada negação da evidência ou na afirmação de óbvias mentiras para tapar erros, fracassos ou no nítido pulo do muro da coerência com o passado e os compromissos de campanha.

Quando o governo desanda ou a oposição perde o controle é a vez da mentira ocupar o vazio com o espetáculo das mais estapafúrdias desculpas e o despudor de afirmações absurdas.

Francamente, o governo está passando da conta. A começar pelo presidente Lula no jogo de negaças primário de candidato à reeleição. Para que buscar atalhos quando é mais simples e ético seguir a linha reta? Lula vem errando desde o começo, quando nas primeiras declarações tortas sobre a sua sucessão enveredou pelo atalho do despistamento, a fingir que não sabia se seria ou não candidato e só decidiria quando julgasse conveniente. Bastaria declarar que não falaria sobre a sua sucessão antes da hora. E só.

Tolices em cascata. De saída, todos os detentores de mandatos executivos são candidatos à reeleição desde sempre, antes mesmos de tomar posse ou de anunciado o resultado oficial das urnas.

Alguns, pouquíssimos, desistem pelas mais diversas razões. Mas, já é outra história.

No caso de Lula, jamais houve dúvida. As possíveis nuvens de hesitações de tempos recentes de céu tempestuoso são mais jogo de cena para assustar dependentes do puxador de votos petistas do que as angústias da alma atormentada.

Lula nunca pensou, por um segundo, na hipótese da renúncia à candidatura para o bis do mandato. Não pensa, não cogita nem pode. E entre muitas razões do leque da especulação porque não teria o que fazer fora do poder, privado do Aerolula e da praia baiana da Base Naval e sem outro emprego ou ocupação. Morreria de tédio e de amargura.

Não é só. Por mais incrível ou difícil de acreditar, está convencido de que seu governo é um sucesso, "o maior que este país já teve", e necessita de mais quatro anos para concluir as obras monumentais em andamento e consolidar os fantásticos avanços sociais a serem conferidos pelos índices do projeto Bolsa-Família e de mais algumas duvidosas estatísticas.

Mas se oba-oba é a tática de campanha, a tolerância com a mentira necessita de parâmetros para não se expor ao ridículo da operação tapa-buracos na rede rodoviária, relegada ao abandono e a degradação em três anos de mandato. O corre-corre aflito para tamponar o rombo nos votos é um show de improvisação, denunciado pelo coro de críticas ao desperdício do dinheiro público, pois em época de chuvas, o piche atirado na buraqueira não resistirá a meses de tráfego intenso.

Pisando em barro e irritado com os engarrafamentos, o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento (PL-AM), emergiu do anonimato para a glória de dulçorosa exposição na mídia e consagrou-se com a pérola da justificativa para as obras do tapa-buraco no período de chuvas e em ano eleitoral: Ensinou aos papalvos: "Em ano eleitoral não se pode parar as obras. As pessoas vão sempre reclamar. Reclamam quando não se faz a obra e quando se faz a obra diz que o momento é impróprio." O ministro não é uma graça?

Na orgia da insanidade, vale tudo. O presidente Lula jura que ainda não é candidato e que só anunciará que é candidato lá para fim de fevereiro ou março. E, na mesma toada, anuncia para este ano uma invejável agenda de viagens, seja para atender nos giros internacionais aos compromissos de líder mundial dos países subdesenvolvidos ou, com o encaixe de compacta programação doméstica, para "colher o que o governo plantou" com inaugurações e festanças. O país terá a oportunidade de conhecer as obras que ninguém viu, tão misteriosas como o "traidor oculto" da queixa presidencial sobre a punhalada nas costas do PT.

O Congresso dispensa exemplos para o bailarico de mordomias, vantagens e madraçaria. No fundo da fossa da desmoralização do caixa 2 e do mensalão, dedos ágeis, como denuncia o JB, incluíram na pasta da convocação extraordinária – que é um escândalo à parte – o projeto de lei complementar que aumenta o número de deputados dos atuais 513 para 541. Trampa que tem todos os atrativos para ser aprovada se a opinião pública cochilar na vigilância.

No charco de mentiras, tapeações, espertezas, escândalos e acertos por baixo do pano, a crise institucional envolve os três poderes, dribla as reformas moralizadoras, inadiáveis e profundas, e empurra o país com a pança para o buraco da recaída ou o estouro imprevisível.

Como está, dura pouco.

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