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Depois de vários rebates falsos, em que o fim da liderança norte-americana foi anunciado e, em seguida, desmentido pelos fatos, parece que ela começou a chegar no 11 de Setembro de 2011

A destruição das torres gêmeas do WTC completa 10 anos, o que aguça a vontade de tentar entender o que se passou em Nova York, além das aparências óbvias. Uma síntese do que aconteceu naquele dia é que, com as 3 mil vítimas dos terroristas, morreu também o sonho americano.

Um grande amigo meu, nascido nos Estados Unidos, mas radicado no Brasil há 30 anos, me disse que já está se preparando psicologicamente para o dia em que seu país deixará de ser a maior potência do mundo, superada pelos chineses, depois de passar a vida toda sem nem sequer imaginar que esse dia chegaria. Brasileiros que emigraram para buscar uma vida de prosperidade e conforto na maior economia do mundo desembarcam de volta, com algumas poupanças para recomeçar, mas com um sentimento impossível de mascarar, o de que jogaram fora uma boa parte da vida em busca de um objetivo agora inalcançável. Visitantes que antes eram acolhidos com cortesia estéril, mas civilizada nos aeroportos, na imigração e na alfândega, agora são tratados como criminosos até prova em contrário, submetidos a revistas eletrônicas ultrajantes e sentindo-se sob permanente vigilância.

O sonho americano se desfez também em outras paragens. O due process of Law, o princípio de que ninguém pode ser condenado ou punido sem direito a um processo legal, conflita com os "interrogatórios severos", a prisão de Guantánamo, as prisões clandestinas mundo afora, a distinção entre os que merecem e os que não merecem a proteção da lei. O livre transitar no país, sem necessidade nem sequer de uma carteira de identidade foi substituído por sistemas supersofisticados que leem os e-mails, escutam as conversas e fotografam as pessoas na multidão procurando, instantaneamente em bancos de dados eletrônicos, algum sinal de perigo.

Ora, mas isso não acontece e aconteceu em muitos outros lugares? Ingleses, que mandaram no mundo até o século 20 não viram a importância de seu país declinar até o limite da irrelevância? A polícia britânica, tão celebrada pela civilidade e profissionalismo, não deu sete tiros em um pobre brasileiro sentado placidamente dentro de um vagão de metrô porque o confundiu com outra pessoa e foi incapaz de abordá-lo para saber quem era? Franceses, tão civilizados, filhos de uma das pátrias-mãe do Iluminismo e dos direitos dos homens, não ensinaram na Argélia e na Indochina como utilizar a tortura como instrumento de repressão política, onde os "paras", os paraquedistas viraram polícia de rua e cometeram as maiores atrocidades? Os franceses de ultramar, que emigraram para a África, e os pied noirs que se sentiam cidadãos franceses completos não descobriram, quando voltaram ou fugiram para a metrópole, que eram tratados como cidadãos de segunda categoria?

Existe, porém, uma diferença. A diferença está na promessa implícita na história de cada país. Estrangeiros nunca esperaram grande coisa dos ingleses a não ser a tradicional (e agora abalada) civilidade, pois a arrogância e o sentimento de superioridade dos britânicos são cronicamente enraizados há séculos. Nem dos franceses, que não perdem tempo com demonstrações de civilidade e que compartilham o mesmo ar de superioridade em relação ao resto do mundo, apesar de a Segunda Guerra Mundial tê-los relegado, como potência, a uma posição secundária. Mas da nação norte-americana, as pessoas esperavam mais. Um país jovem, projetado intelectualmente por uma elite de fazer inveja, com Thomas Jefferson, Benjamin Franklin, George Washington, John Adams, Alexander Hamilton e os pais fundadores; formado por imigrantes das mais variadas origens, que fugiram da fome na Europa, das perseguições religiosas e políticas, do totalitarismo nazista, comunista ou fascista e da falta de perspectivas para tentar a vida na "terra dos livres e pátria dos bravos".

Depois de vários rebates falsos, em que o fim da liderança norte-americana foi anunciado e, em seguida, desmentido pelos fatos, parece que ela começou a chegar no 11 de setembro de 2011, substituída pela sensação de vulnerabilidade e insegurança, a fragilidade econômica, enfim, o sentimento de que "aqueles" Estados Unidos que despertaram tantas esperanças e embalaram tantos sonhos não existem mais.

Belmiro Valverde é professor do Doutorado em Administração da PUCPR.

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