Quando japoneses, italianos, alemães, poloneses, russos e povos árabes migraram em massa para o Brasil, em função das tragédias que envolveram seus países, basicamente guerras e ditaduras comunistas, essa gente imaginava ter deixado para trás muita dor e sofrimento. Enquanto desembarcavam e seus pés pisavam a costa brasileira, os imigrantes nos viam como uma terra de oportunidades, o país do futuro.
Há quem diga que os economistas têm o mau hábito de serem pessimistas e só vêem o lado trágico do Brasil. Pode ser que sim. A questão é que os indicadores de pobreza e as carências sociais demonstradas nas estatísticas são de tal ordem assustadores que não há como escapar de uma pergunta fatal: o que há de errado com o nosso país? Dos 82 milhões em condições de trabalhar, 10 milhões estão desempregados e, destes, 4,5 milhões são jovens. De cada dez empregos gerados no Brasil, nove pagam até dois salários mínimos. O déficit habitacional passa de cinco milhões de moradias e não há perspectiva de que veremos, tão cedo, todas as famílias morando em uma residência minimamente digna.
Apenas esses dados são suficientes para encher de angústia. Sempre ouvimos dizer que o Brasil seria o país do futuro. Nem nisso acreditamos mais. Parece que nem os bebês que estão nascendo agora, e que deverão morrer daqui a uns 80 anos, verão um país desenvolvido. É triste ouvir de jovens recém-formados que sua vontade é ir embora daqui e que só não o fazem por falta de condições.
Os problemas que mantêm o Brasil como país pobre são conhecidos. Não temos dificuldade de diagnóstico. Temos incapacidade política de solução. Várias listas de problemas podem ser feitas, todas elas mostrando feridas que impedem o país de se desenvolver. A minha lista preferida é a seguinte: 1) excessivo número de leis; 2) regras não-claras e instáveis; 3) governo grande demais, ineficiente e corrupto; 3) cultura antiempresarial, contrária ao investimento estrangeiro e desfavorável à iniciativa empreendedora; 4) pouca abertura para o mundo; 5) carga tributária excessiva e confusa; 6) federação disfuncional em que os papéis da União, dos estados e dos municípios estão mal-definidos; 7) excesso de regulamentação e intervenção governamental na vida das pessoas e das empresas; 8) precário sistema legal-judicial; 9) péssima legislação reguladora das relações trabalho/capital; 10) crescimento populacional exagerado; 11) descaso com a educação básica; 12) déficits públicos crônicos nos últimos 40 anos; e 13) perda da capacidade de investimento do setor público.
Esse quadro dramático não pode ser atribuído a qualquer governo especificamente. É resultado de uma longa história, que vem desde o descobrimento do Brasil. Por aqui, superestimamos a capacidade do governo de fazer o bem e ser o motor do crescimento, quando já está provado que o Estado não é a locomotiva do progresso. O crescimento econômico e, por conseqüência, o desenvolvimento social dependem de um vigoroso setor privado, conforme mostram os países que lograram crescer. Até países comunistas, como a China, conseguiram crescer quando introduziram políticas capitalistas e liberais, adquirindo as condições de melhorar os indicadores sociais.
A economia mundial caminha celeremente para ser, cada vez mais, uma economia de serviços. A agricultura se mecanizou e não é mais fonte de geração de empregos, a indústria está seguindo a agricultura e a máquina toma o lugar do homem de forma contínua. Criação e inovação tecnológica, indústria de serviços (telecomunicações, energia, portos, informática, turismo, etc.) e grande capacidade de exportação são a combinação capaz de levar uma região ao desenvolvimento. Se quisermos sair dessa onda de mediocridade em que o Brasil está metido, devemos tomar outro rumo, que leve em consideração essas novas ondas capazes de transformar a economia de uma região. Infelizmente, a sociedade e os políticos acreditam demais na capacidade do governo de criar renda e emprego a partir do nada, quando deveríamos acreditar que o governo pode, no máximo, auxiliar na criação daquilo que gera renda e emprego: empresas e negócios privados.
José Pio Martins é professor de Economia e vice-reitor do Centro Universitário Positivo UnicenP.