O título da Copa do Mundo na França consolidou os Estados Unidos como a maior potência mundial do futebol feminino. Durante o evento, encerrado no início de julho, ouviu-se defesas exasperadas e aparentemente engajadas de apoio ao futebol feminino. Acompanhando essa trilha e pegando carona na briga travada pelas atletas norte-americanas pela igualdade de salários e premiação, pulularam comparações entre os salários de Marta e Neymar, ou das premiações concedidas a seleções masculinas e femininas. Quem se manifestasse contrário ao futebol feminino ou da igualdade remuneratória era tido como inferior intelectualmente.
Com o fim da Copa do Mundo, o discurso politicamente correto e com ar de superioridade arrefeceu. As mesmas pessoas que defenderam com unhas e dentes a necessidade de igualdade e o apoio ao futebol feminino, sem nem sequer saberem o nome de qualquer atleta ou da existência de um Campeonato Brasileiro da modalidade, calaram-se.
O futebol não é uma instituição filantrópica; é um negócio no qual se paga o quanto vale
Antes de qualquer pedido de igualdade financeira, o futebol feminino precisa de arrecadação. Enquanto a Copa do Mundo da Rússia, em 2018, teve uma audiência de 3,5 bilhões de pessoas e uma média de público de 47.371 torcedores nos estádios, a Copa feminina de 2019, por sua vez, em números preliminares, não teria alcançado 1 bilhão de telespectadores, e a média de público foi de 21.756 torcedores.
O futebol não é uma instituição filantrópica; é um negócio no qual se paga o quanto vale. Neste caso, a velha máxima de que “não existe almoço grátis” se aplica, ou seja, enquanto o futebol masculino arrecadar mais, seus atletas receberão mais.
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A federação de futebol da Noruega resolveu igualar os valores pagos aos atletas masculinos e femininos, apesar de os homens arrecadarem mais. Para tanto, os homens abriram mão do equivalente a R$ 220 mil por ano. Que independência e empoderamento são esses pregados pelos politicamente corretos, que dependem do dinheiro conquistado pelos homens?
Assim como no mercado da moda as mulheres faturam mais e, portanto, recebem muito mais do que os homens, no futebol eles recebem mais porque a modalidade fatura mais. Não se trata aqui de preconceito ou menosprezo, mas de valor de mercado – que, aliás, é composto também pelos “intelectualmente superiores” que satisfazem a própria vaidade com postagens ásperas nas redes sociais, mas não apoiam e nem acompanham de fato o futebol feminino.
O que o futebol feminino precisa não é do dinheiro conquistado pelos homens, mas da audiência e do público real – e não virtual – da grande e cansativa massa politicamente correta as redes sociais.
Gustavo Lopes Pires de Souza é mestre em Direito Desportivo pela Universidad de Lleida, presidente do Instituto Mineiro de Direito Desportivo e vice-presidente do Instituto Brasileiro de Direito Desportivo.