Nos últimos 20 anos, todas as tentativas de substituir o aterro da Caximba aterro norte em Almirante Tamandaré (1989), aterro norte em Rio Branco do Sul (1999), aterro em Fazenda Rio Grande e em Mandirituba (2001) foram inviabilizadas. Os motivos? Rejeição da população vizinha, restrições ambientais e legais, e também, interesses econômicos, como está acontecendo agora com a implantação do Sistema Integrado de Processamento e Aproveitamento de Resíduos (Sipar), resultado do consórcio de 19 municípios da Região Metropolitana de Curitiba.
Neste momento, setores da população e da imprensa tratam o Aterro Sanitário da Caximba como um vilão, quando, na verdade, ele tem sido a solução para o destino do lixo de cada um de nós nos últimos 19 anos. A rejeição da população local, materializada em leis municipais restringindo o recebimento de resíduos, não é uma particularidade de Curitiba e de sua região metropolitana. A mesma situação ocorre no mundo inteiro e ganhou até uma denominação: Nimb Not in My Backyard, que significa "no meu quintal, não". É uma visão tristemente egoísta. Todos concordam com a necessidade de ter um local para tratar os resíduos, mas ninguém o quer perto de sua casa.
Nos países em que essa barreira já foi vencida, hoje existem plantas de tratamento de resíduos funcionando como qualquer outra indústria. Foi o investimento em tecnologia que fez a diferença. É a mudança que se pretende com a implantação do Sipar.
Durante a transição entre um modelo e outro, até que se crie a nova referência, há a necessidade de compensação para que a população mais próxima seja beneficiada. O município sede do Sipar receberá royalties estimados entre R$ 400 mil e 500 mil por mês, além da geração de cerca de 250 empregos diretos e melhorias na infra-estrutura local.
O que se propõe é uma verdadeira mudança de paradigma, que esbarra, principalmente, em interesses econômicos por parte daqueles que querem perpetuar a prática de enterrar o lixo. Desde o início da licitação para o Sipar, em dezembro de 2007, foram 30 ações judiciais destinadas a barrar o processo. Até agora, o consórcio de municípios teve ganho de causa em 29 delas. Falta pouco para que vençamos também a ação de número 30.
Até que Curitiba e sua região metropolitana consigam vencer esses interesses, é preciso continuar a tratar o lixo de forma adequada. A Caximba é a única alternativa viável no momento, e ela vem precedida de todos os estudos técnicos e projetos necessários do ponto de vista ambiental e de segurança.
O plano de encerramento do aterro sanitário, apresentado ao Instituto Ambiental do Paraná em 2 de julho, vem sendo feito desde o início de 2008. O plano prevê a reconformação geométrica do aterro, que será feita com o preenchimento dos espaços formados pela decomposição dos resíduos.
Segundo recomendações de técnicos em aterros sanitários, preencher com lixo esses espaço é a maneira mais indicada para evitar futuros problemas no aterro. Ou seja, independente do prazo de encerramento do aterro, isso deverá ser feito. A reconformaçao geométrica possibilitará o uso remanescente do aterro até o final de 2010.
O plano prevê também ações que serão desenvolvidas durante o período de funcionamento e nos próximos 20 anos, como o tratamento de efluentes, o aproveitamento do biogás, o monitoramento ambiental e geotécnico e as atividades de manutenção.
É preciso lembrar também que o aterro sanitário da Caximba teve seu tempo de uso prolongado em razão da reciclagem. Mais de 21% dos resíduos produzidos na cidade são separados pela população. Isso representa a média de 540 toneladas por dia. É um volume significativo, considerando que a maior parte das capitais não chega a 10%. Ainda assim, três em cada dez quilos de lixo encaminhados para o aterro são potencialmente recicláveis. Ou seja, poderiam ter sido separados em casa, proporcionando, além dos ganhos ambientais, maior economia de espaço no próprio aterro.
Marilza de Oliveira Dias é coordenadora de Resíduos Sólidos da Secretaria do Meio Ambiente de Curitiba.