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A cidade de Curitiba é formada por um desenho urbano facilmente reconhecível, chamado Setor Estrutural. Com geometria formada pela junção de grandes edifícios, esse conjunto linear de construções é fruto do desejo de organizar a cidade segundo um princípio inovador, que consiste na conjunção de três elementos indissociáveis: transporte público, uso do solo e sistema viário.

Assim, atribui-se ao transporte de massa a responsabilidade de indutor do desenvolvimento da cidade, por localizar-se na porção de maior adensamento, com infraestrutura adequada e edifícios multifuncionais de maior altura, a conjugar habitações e escritórios, além de uma base comercial junto à rua. O terceiro elemento do Setor Estrutural, o sistema viário, forma-se por uma via lenta central – com canaleta para o ônibus – e duas vias externas em direção aos bairros e ao centro da cidade. Implantado gradativamente desde a década de 70, esse é o princípio básico pelo qual se estrutura a cidade, o denominado planejamento integrado.

Na última década, pela verificação dos alvarás de construção, ou pela simples observação da cidade, percebe-se uma migração das construções, com crescente abandono do Setor Estrutural para outras zonas da cidade. Curiosamente, parte considerável do Setor Estrutural tem potencial construtivo ocioso. Trata-se de local propício ao adensamento, mas negligenciado por recentes instrumentos legais que estimulam ocupações em outros locais. No Centro há o exemplo mais emblemático, com a construção de um edifício de 47 pavimentos, nitidamente incompatível com a escala da cidade, e com desalinhamento à história edificada de Curitiba.

No mesmo caminho, a ênfase na engenharia de tráfego de automóveis, a perceptível perda de qualidade do sistema de transporte e a crescente demolição do patrimônio histórico indicam que o planejamento integrado, grande legado da cidade, começa a ser flexibilizado. A distorção no uso do potencial construtivo, para finalidades diferentes daquelas para as quais foi criado, também é um indicador.

Prevista para 2014, a revisão do Plano Diretor de Curitiba é uma oportunidade para realinhar o planejamento segundo seus princípios originais, mas com observação aos novos desafios da cidade. A condição da cidade do futuro dependerá dessas decisões. Devido à sua importância, é necessário resgatar a qualidade no Setor Estrutural, com estímulo do potencial construtivo para o setor de maior adensamento e infraestrutura, e não em bairros residenciais. Deve-se garantir um transporte público com mais conforto para o usuário, com melhorias em todo o sistema, na operação, nos ônibus, nas estações e terminais de integração. Melhorar e aumentar as calçadas e a arborização, e criar ciclofaixas nas vias lentas são ações de rápida implantação.

Há um vínculo entre qualidade do espaço público e qualidade de vida. Por um ciclo virtuoso, o espaço público de qualidade estimula mais atividades ao ar livre. Mais gente na rua melhora as relações sociais. Com planejamento a partir da escala humana, e menos ênfase no automóvel individual, resgata-se a função urbana primordial: a cidade como lugar do encontro.

Fabiano Borba Vianna, mestre em Arquitetura e Urbanismo pela USP, é professor na PUCPR.

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