Peter Drucker, o pensador mais influente na área administrativa, desde 1950, observou que o futuro se desenha, em certa medida, por acontecimentos já ocorridos e que são geradores de tendências ou possibilitadores de determinados futuros. Não há determinismo causal, mecânico, mas em virtude da sua potencialidade geradora de tendências é que determinados fatos tornam-se históricos, condicionam o porvir, ou abrem novos horizontes, e influenciam fortemente a psicologia e o comportamento dos homens.
Uma analogia à que recorria, para a interpretação histórica dos tempos correntes, era o da ferrovia, como um dos frutos mais influentes da revolução industrial, que possibilitou a diminuição das distâncias e revolucionou todo o comércio. No entanto, a inovação do carro sobre trilhos já existia nas minas de carvão há bastante tempo e a máquina a vapor já havia sido inventada; mesmo assim a ferrovia inicialmente foi empregada para passageiros. Somente trinta anos mais tarde é que veio a ser aplicada em transporte de cargas nos Estados Unidos. A epidemia das ferrovias alastrou-se nos Estados Unidos e na Europa até o fim da década de 1850. Foi a "época em que a maioria das ferrovias importantes atuais já estava construída. Nos Estados Unidos continuou por outros trinta anos, e em outras regiões como Argentina, Brasil, Rússia asiática e China até a primeira Guerra Mundial".
A internet pertence a esses fenômenos potencializadores do futuro, de modo que não se pode desenhar o amanhã sem levar em conta as suas dimensões influenciadoras. "O futuro que já aconteceu" é a virtualidade de um presente gerador de novas realidades. Drucker avaliava há nove anos: "o comércio eletrônico é para a Revolução da Informação o que a ferrovia foi para a revolução industrial um avanço totalmente novo, totalmente sem precedentes, totalmente inesperado. Fazendo uma analogia com a ferrovia de 170 anos atrás, o comércio eletrônico está criando uma nova explosão mudando rapidamente a economia, a sociedade e a política".
"O futuro que já aconteceu" é, por exemplo, o resultado da política demográfica brasileira, porquanto a mudança já se deu e condiciona o porvir. É crescente o número de casais que decidem pelo adiamento de filhos, ou não tê-los, e o de pessoas que vivem e moram sozinhas (estima-se que serão 12 milhões em 2016).
O perfil demográfico brasileiro permite visualizar o aumento relativo da população da faixa de 50 anos que em 1980 eram 6,8 milhões, em 2005, 12,6 milhões e em 2020 a previsão é de 18 milhões.
Drucker avaliava que os comportamentos coletivos sofrem a influência aguda daquela faixa etária de maior crescimento, comparativamente às outras. "A diminuição da população jovem causará mudanças ainda maiores: nada parecido ocorre desde os séculos finais do império romano." A taxa atual de natalidade no Brasil está abaixo da reposição populacional e como consequência o comportamento social estará progressivamente condicionado pela mentalidade da faixa etária madura.
"Agora, terá como alicerce a meia idade ou, mais provavelmente, será dividido em dois: um mercado determinado por populações de meia idade e outro, muito menor, por jovens. E, como a quantidade de jovens diminuirá, a criação de novas estruturas empregatícias, que possam atrair e manter o crescente número de pessoas mais velhas (e instruídas, principalmente) ganhará em importância".
Outra área em que o futuro já aconteceu é a do conhecimento. A sociedade atual apoia-se no conhecimento, e o recurso, escasso nesta nova economia, é a eficácia na sua transmissão, assimilação e aplicação. O verdadeiro gargalo é a capacidade limitada da nação brasileira, política e educativamente, em alavancar seu povo ao grau mínimo de saber. Drucker pensava que as três características principais dessa sociedade são: "a inexistência de fronteiras: o conhecimento se move de modo ainda mais fluido que o dinheiro, a mobilidade vertical disponível a todos, através de instrução formal facilmente acessível e o potencial para o fracasso, assim como para o sucesso. Qualquer um pode obter os meios de produção, isto é, o conhecimento exigido para o trabalho, mas nem todos podem vencer".
A questão-chave, para a década que se inicia, é sobre o que fazer para que o futuro aconteça. É certo que o futuro será o que a Educação entender que o seja. "O propósito da tarefa de construir o futuro não é decidir o que deve ser feito amanhã, mas o que deve ser feito hoje, para que haja um amanhã". Para isso necessita-se de líderes!
Paulo Sertek, doutor em Educação pela UFPR, é autor de Responsabilidade Social e Competência Interpessoal, Empreendedorismo e Administração e Planejamento Estratégico. paulo-sertek@uol.com.br