| Foto: Big Stock, Iryna Imago/Reprodução
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O século 21 será marcado pela efetiva implementação de máquinas inteligentes e tecnologias cognitivas em áreas que habitualmente eram imprescindíveis para a ação humana. O que isso quer dizer?

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A presença humana em diversos setores do trabalho e da sociedade está sendo substituída pela atuação de robôs e inteligência artificial. Por exemplo, o processo de automação nas indústrias, o uso de atendentes virtuais, a “algoritmização” das relações humanas nas redes sociais, as cirurgias médicas realizadas por robôs, o ensino por meio de aplicativos e inteligência artificial e a decisão do “chefe digital”, com a capacidade de demitir 150 pessoas em um segundo em uma empresa de software.

As máquinas inteligentes já realizam o trabalho que exige maior força física e agilidade, e estão sendo direcionadas para os departamentos com a tarefa decisória e de consulta nas empresas. Na área de negócios, as denominadas “hard skills”, as competências técnicas que cada área de trabalho exige para que se tenha determinado produto, estão sendo delegadas aos robôs.

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As denominadas “soft skills”, as competências relacionais, que ainda pertencem a nós, estão inseridas no âmbito das interações sociais e o trabalho em equipe, e serão o próximo passo de atividade das máquinas inteligentes. O desenvolvimento das tecnologias cognitivas e da inteligência artificial colocará em xeque a distinção das competências (skills), pois os robôs já estão realizando determinados serviços técnicos e analíticos. Então, o futuro pertence aos robôs, como já anunciado em diversos filmes de ficção científica, e nada podemos fazer?

Penso que a opção de escolha entre o vencedor no conflito entre seres humanos e robôs não poderá nos ajudar, pois a otimização dos resultados pelas máquinas inteligentes já tem superado a capacidade humana. Todavia, podemos nos fazer aquela pergunta que inquieta a humanidade em toda a sua história: quem somos? A partir da nossa resposta, podemos melhor integrar a relação entre os robôs e humanos. Pois iremos descobrir que as capacidades de cuidar e demonstrar afetos são as que nos constituem como humanos e marcam o início da nossa civilização, como explica a antropóloga Margaret Mead.

O cuidado empático, o respeito à diversidade humana e a valorização das pessoas em sua história e experiência de vida farão que o futuro possa pertencer aos seres humanos. Assim como devemos nos preocupar em resolver as persistentes formas de injustiças e desigualdades em nossa sociedade. Caso contrário, a máquina irá suplantar a nossa humanidade. O futuro ainda está aberto para a nossa decisão perante o potencial analítico e persuasivo da inteligência artificial, se conseguirmos redirecionar a introdução das máquinas inteligentes em benefício das pessoas mais vulneráveis.

Alberto Paulo Neto, mestre e doutor em Filosofia, é professor no Programa de Pós-Graduação em Bioética da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR, câmpus Londrina) e líder do Grupo de Pesquisa Justiça e Direitos Fundamentais (CNPq/PUCPR Londrina).